110 Histórias, 110 Objectos: Gasparzinho

Neste 57º episódio do podcast, conhecemos o robô Gasparzinho. O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. No 58.º episódio do podcast, conhecemos o Gasparzinho.

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Gasparzinho Instituto Superior Técnico

Um robô acorda todos os dias às 10h30, em Lisboa, na ala pediátrica do Instituto Português de Oncologia (IPO), e deambula de forma autónoma pelos corredores do edifício. Os sensores laser ajudam-no a evitar obstáculos e está programado para dar os bons dias a quem passa, assobiar, conversar e até mesmo jogar. Estamos em 2014, período em que o Gasparzinho, um robô com competências sociais, faz companhia a crianças que passam pela instituição, tentando contribuir para o seu bem-estar tornando-as mais activas. O robô manteve-se pelo IPO até 2019.

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“Tudo o que sejam projectos que integrem uma melhoria de quotidiano e integrem alegria e uma dose de loucura são aceites e recebidos de bom grado”, descreve Filomena Pereira, responsável pelo serviço de pediatria do IPO de Lisboa. A “loucura” passava pela criação de um robô que fosse capaz de acompanhar uma criança a um ritmo acelerado, para que pudessem correr atrás dele. “Era um desafio muito grande. Não havia nada no mercado que fizesse isso”, recorda João Sequeira, professor no departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores do Instituto Superior Técnico.

Por aconselhamento dos médicos da instituição, o Gasparzinho não se move tão depressa como inicialmente projectado, atingindo ainda assim uns bons 50 a 70 centímetros por segundo. “Os médicos referiram que se um robô deste tipo puder levar ao aumento da actividade física dos miúdos, isso só por si já é positivo”, recorda João Sequeira.

E assim foi desenhado o Gasparzinho, pensado para promover a interacção. “As crianças geralmente têm dificuldades com alguns tipos de tratamentos. A utilização de robôs para de alguma forma acalmar, distrair as crianças, pode ser muito positivo”, complementa. “Entrámos numa espiral de ideias de projectos que podiam ser feitos aqui. Foram feitos imensos projectos de jogos, interacção, muita coisa. A presença do “bicho”, como eu lhe chamava, modificou aqui muito o quotidiano, introduziu uma novidade”, recorda Filomena Pereira.

Das ideias surgiu então o projecto de construir um robô para “ser um amigo, gerar conversas, gerar piadas, ser um animador, como mais um interveniente activo e positivo do espaço”, como descreve Paulo Alvito, sócio fundador da empresa IdMind, que ficou responsável pela sua execução.

Pelos corredores do IPO, o Gasparzinho foi acumulando interacções e histórias inspiradoras: “Todas as histórias a que fui assistindo enquanto o robô esteve activo de interacção com as crianças ainda hoje me motivam imenso para continuar a trabalhar nesta área”, diz João Sequeira. Recorda uma criança que chegou ao IPO numa cadeira de rodas empurrada pela mãe. Passados 30 minutos já estava fora da cadeira, agarrada ao robô. Outras que corriam atrás do robô, que fugia deles (por estar programado para evitar obstáculos). E outra de uma criança que estava em fase terminal da sua doença, e que já conhecia o Gasparzinho, cuja mãe foi pedir para levarem o robô ao seu quarto.

“Coloca-nos a pensar como temos que encarar toda a programação do desenvolvimento de dispositivos deste tipo para reagir de forma adequada a estas situações. Tem que haver um cuidado extremo em conhecer as pessoas, conhecer o lado humano”, aprofunda João Sequeira.

O Gasparzinho, nome escolhido pelas crianças, nasceu também dessa procura para “colocar robôs a fazer qualquer coisa que fosse útil para a sociedade”. A ideia transformou-se em projecto científico – com o nome de Monarch – alicerçado num consórcio de investigação internacional. “O desafio era de tal forma ambicioso que as pessoas perceberam que havia muito espaço para colocarem as suas próprias áreas de investigação específicas e com potencial para seguir novos caminhos, que é o que qualquer investigador deseja”, descreve João Sequeira, que também coordenou esse projecto de investigação. O projecto exigia competências diversas como tecnologias de visão, aspectos de interacção pessoa-robô e tomadas de decisão.

O projecto teve um impacto significativo na forma de fazer robôs hoje em dia. “Por exemplo, a nível dos materiais, do aspecto exterior do robô e o seu impacto na pessoa: o volume e o aspecto que um determinado robô deve ter para que possa ser melhor aceite, o tipo de sons que deve produzir...”.

Do Gasparzinho, derivaram, por exemplo, robôs como o Viva, que se encontra no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, e um outro que estará em breve na área de exposições do Museu Mineiro do Lousal. Depois deste projecto, surgiram também robôs com classificação médica, como a foca robótica, de origem japonesa.

Quanto ao Gasparzinho, a sua missão no IPO de Lisboa ficou ainda algo incompleta, como defende Filomena Pereira. “Tenho saudades do projecto, sobretudo do que não foi feito. O potencial era muito grande. Gostaria que fosse reanimado esse projecto com esse “bicho”, porque de facto era um bicho simpático, ficava bem aqui nos nossos corredores”.


O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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