“Operações de ingerência”, “mínimos para governar” e “oportunidade” desperdiçada. As reacções dos partidos portugueses

Partido Comunista reagiu ao anúncio dos resultados oficiais das eleições em Angola. O BE fala de “sério aviso” ao regime e diz que MPLA “tem os mínimos para governar”. Chega considera que foi desperdiçada “oportunidade para mudança”.

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O MPLA de João Lourenço ficou à frente da Unita nas eleições gerais de 24 de Agosto LUSA/PAULO NOVAIS

O PCP alertou para as “operações de ingerência a partir de Portugal” nas eleições em Angola e felicitou o MPLA pela vitória, segundo um comunicado divulgado esta segunda-feira horas depois de terem sido anunciados os resultados oficiais.

Na nota, os comunistas não se referiram a partidos ou a políticos, mas advertiram para “as tentativas de colocar em causa o processo eleitoral por parte daqueles que perante a sua derrota, e à semelhança de situações anteriores, não aceitam a vontade soberana, livre e democraticamente expressa pelo povo angolano”.

Expressando “os melhores votos de sucesso ao povo angolano”, o PCP assumiu que existiram “operações de ingerência que a partir de Portugal procuram, uma vez mais, promover a desestabilização em Angola” mas não concretizou nenhuma situação.

No comunicado, o PCP “felicita o MPLA pela vitória das eleições gerais” com “a eleição da maioria dos deputados na Assembleia Nacional e de João Lourenço como Presidente da República de Angola”.

BE fala de “sério aviso” ao regime

O BE considerou hoje os resultados eleitorais em Angola um “sério aviso” à continuidade do regime do MPLA que “tem os mínimos para governar”, antecipando uma “forte oposição popular” ao executivo de João Lourenço.

Em declarações à agência Lusa depois de os resultados definitivos das eleições em Angola terem dado a vitória MPLA com 51% dos votos contra 44% da UNITA, o dirigente do BE Luís Fazenda considerou que o partido de João Lourenço “tem os mínimos para governar, numas eleições que são completamente controladas pelo aparelho de Estado do MPLA”. “Isto só pode ser entendido como um sério aviso à continuidade do regime que foi instaurado pelo MPLA, tem sido um regime de partido único e que neste momento enfrenta uma crise de representatividade e de legitimidade”, defendeu.

Na opinião do fundador e dirigente do BE, “os resultados eleitorais mostram que não é difícil de prever que vá existir uma forte oposição popular ao executivo de João Lourenço”, considerando que “isso é muito previsível na capital e em várias outras regiões do país”. Para Luís Fazenda, estes resultados eleitorais foram um “aviso ao regime”, um regime “cleptocrático, um regime que nos últimos anos manteve uma repressão contínua e toda uma conflitualidade enorme com movimentos sociais, com protestos da juventude”. “Há, com certeza, condições para alterar os termos em que a governação política tem existido em Angola, aliás muito distante dos termos da Constituição”, antecipou.

Referindo-se ao discurso de “reclamação de vitória política” de João Lourenço, o bloquista afirmou que foi feito “um conjunto de promessas democráticas”. “Mas o crédito que elas podem ter interna e internacionalmente não é mais do que aquilo que tiveram as promessas que fez para acabar com a corrupção ou trazer transparência como montra da governação em Angola e tudo isso não passou de uma cortina de fumo para a decadência do poder político do MPLA”, criticou.

Chega considera que foi desperdiçada “oportunidade para mudança"

O Chega lamentou que os angolanos tenham desperdiçado “uma importante oportunidade para a mudança” face “ao poder absoluto e pouco democrático” do MPLA com as eleições gerais em Angola. “Esta era uma importante oportunidade para a mudança acontecer em Angola, após décadas de exercício de poder absoluto e pouco democrático pelo MPLA, com resultados devastadores em termos de pobreza da população, corrupção das instituições e desaceleração nos índices de desenvolvimento humano daquele país”, refere a direcção nacional do Chega.

Em comunicado divulgado esta segunda-feira, o partido liderado por André Ventura lamenta que “essa oportunidade pareça ter sido, para já, desperdiçada”. O Chega indica igualmente que “respeita, evidentemente, os resultados eleitorais” mas considera que existem “dúvidas legítimas e sustentáveis, pela informação que tem vindo a público e que nos tem chegado através de vários interlocutores, da fiabilidade do respectivo processo eleitoral, apesar dos vários observadores internacionais presentes”.

No comunicado, o partido de extrema-direita lamenta ainda a presença do chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa no funeral do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, “pelo simbolismo e pela mensagem política que passa, legitimando e branqueando os crimes do mesmo contra o povo angolano e contra os portugueses”.

Segundo a Comissão Nacional Eleitoral, o MPLA obteve 51,17% dos votos e 124 deputados, e a UNITA registou 43,95% dos sufrágios, conquistando 90 mandatos.

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