Bienal de São Paulo anuncia projecto curatorial para a 35.ª edição

Propor “uma reflexão sobre como diferentes registos de temporalidade podem gerar outros modos de produzir, sentir, expor e nos relacionarmos com práticas artísticas” é uma das directrizes da bienal, que se realizará entre Setembro e Dezembro de 2023.

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Equipa curatorial da 35ª Bienal de São Paulo Levi Fanan/Fundação Bienal

A Bienal Internacional de Arte de São Paulo revelou esta segunda-feira o projecto curatorial da sua próxima edição, a ter lugar entre Setembro e Dezembro de 2023 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo do Parque Ibirapuera.

Sob o título Coreografias do Impossível, o 35.º round daquela que é considerada a maior exposição de arte contemporânea do hemisfério sul –​ e a segunda mais antiga do mundo a seguir à Bienal de Veneza –, constrói-se em torno de uma ideia ampliada de coreografia, do desenvolvimento “do carácter performativo e processual dos processos curatoriais e artísticos” e de abordagens “não lineares nem progressivas” referentes ao tempo e a cronologias históricas, estéticas, sociais.

“A 35.ª Bienal de São Paulo propõe uma reflexão sobre como diferentes registos de temporalidade podem gerar outros modos de produzir, sentir, expor e nos relacionarmos com práticas artísticas”, escreve a equipa de comissários no primeiro texto em que enuncia, de forma algo abstracta, as directrizes de um trabalho curatorial colectivo que junta a artista e escritora portuguesa Grada Kilomba, os curadores e investigadores brasileiros, de uma nova geração, Diane Lima e Hélio Menezes, e o director do Museo Nacional Reina Sofía (Madrid), Manuel Borja-Villel.

Este modelo partilhado, “horizontal” e “não-hierárquico” de curadoria, que se vem tornando mais habitual em vários circuitos artísticos, é, de resto, um alicerce para a própria programação. “As coreografias começam com a nossa prática, que tem como princípio a tentativa de romper hierarquias, procedimentos éticos e normativos que encenam estruturas verticais de poder, valor e violência dos dispositivos institucionais – as quais, todas sabemos, o mundo já não sustenta”, assinala o colectivo.

Numa “contradança” em que se procura “coreografar o possível dentro do impossível” e gerar “novos movimentos” e “dimensões do tempo”, esta bienal focar-se-á em “ritmos, ferramentas, estratégias, tecnologias e procedimentos simbólicos, económicos e jurídicos que saberes extra-disciplinares são capazes de fomentar, e assim produzir a fuga, a recusa e seus exercícios poéticos”.

Para Grada Kilomba, Diane Lima, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, esta bienal servirá também como um ensaio em que se procura “gestos de aprofundar, compactuar, colapsar e aproximar os arcabouços teóricos, as referências simbólicas e repertórios estéticos que conformam a própria colectividade que somos”, integrando diálogos que a equipa vem nutrindo com outros artistas, investigadores, pensadores, curadores, escritores e activistas.

Nesse sentido, há o intuito de “desdobrar as redes da 35.ª Bienal de São Paulo” segundo um modus operandi “extra-disciplinar” e “extra-institucional”, que tenham como pontos de partida “a escuta, as políticas de redistribuição e o cuidado com pessoas, espaços e territórios”, de modo a compor-se uma “imagem fractal” onde “o político, o histórico, o orgânico, o físico, o emocional e o espiritual se unem”.

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