Dúvida: as lentes de contacto podem deitar-se na sanita?

Nunca se deve atirar pelo lavatório ou pela sanita abaixo as lentes de contacto usadas, sob pena de poluir ainda mais as águas com microplásticos. Descubra a forma correcta de descartar estes produtos ópticos.

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As estações de tratamento de águas residuais não têm capacidade para eliminar lentes de contacto Martin Slavoljubovski/Unsplash

Muitas pessoas pensam que as lentes de contacto, por serem um objecto minúsculo e gelatinoso, podem ser descartadas no lavatório ou na sanita, uma vez que se dissolvem na água. A premissa não poderia estar mais errada: estes produtos ópticos não só não são biodegradáveis, como apresentam polímeros que contribuem para a poluição plástica nos mares, lagos e sistemas de abastecimento público.

A criadora digital Patrícia Reis partilhou recentemente no Instagram um testemunho sobre como descobriu que estava a cometer um erro ambiental ao livrar-se das lentes pela sanita abaixo. “Quando comecei a estudar mais sobre os microplásticos, percebi que estava a fazer uma coisa péssima”, explica a autora da Reutilizaramente, uma página no Instagram dedicada à sustentabilidade.

Sobejam estudos na literatura científica que comprovam as altas concentrações de microplásticos na água para consumo humano, no fundo do mar, nos leitos dos rios, em praias remotas, e até no gelo do Árctico. Hoje, entre 19 e 23 milhões de toneladas métricas de lixo plástico acabam anualmente no meio aquático, o que equivale à carga de dois veículos pesados por minuto.

Sendo o plástico um material estável, pode acumular-se por vários anos nas águas do planeta, fragmentando-se lentamente. Um dos tipos mais populares de lentes de contacto é composto por silicone-hidrogel, um material que parece uma gelatina, mas que acabará por se transformar em micro e nanoplásticos com a passagem do tempo. Trata-se de um tamanho tão minúsculo que é capaz de entrar nos nossos pulmões e até na corrente sanguínea humana.

As estações de tratamento de águas residuais não têm capacidade para eliminar estes dejectos, como mostra um estudo da Universidade do Arizona divulgado em 2018. Três investigadores confirmaram a presença de fragmentos de lentes de contacto nos resíduos tratados nos Estados Unidos. Em cada dois quilos de lama de águas residuais, havia, em média, um par de lentes.

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Muitas lentes de contacto são compostas por silicone-hidrogel, um material que acaba por se transformar em micro e nanoplásticos Gedesby1989/Unsplash

Estas lamas, que constituem um subproduto do tratamento da água suja que sai todos os dias das nossas casas, são com frequência reaproveitadas na agricultura. Isto quer dizer que os microplásticos que resultam da fragmentação das lentes de contacto também podem contaminar os solos, e talvez até entrar na cadeia alimentar humana e animal.

“Quando o plástico da lente perde parte da sua força estrutural, este material rompe-se fisicamente. Isso leva à formação de partículas de plástico cada vez menores, o que acabará por formar microplásticos”, explica Varun Kelkar, um dos três autores do estudo. Os cientistas alertaram na altura para a urgência de os fabricantes considerarem opções de reciclagem. E também de comunicarem de forma mais clara, seja nas embalagens ou em campanhas, onde e como estes resíduos do campo da optometria podem ser descartados.

Qual é então a solução?

“Um primeiro passo seria os fabricantes fornecerem na embalagem do produto informações sobre como descartar correctamente as lentes de contacto, que é simplesmente colocá-las no lixo junto com outros resíduos sólidos. Um resultado desejável a longo prazo seria criar lentes a partir de polímeros que são ajustados para serem inertes durante o uso, mas ao mesmo tempo capazes de se degradar sem prejudicar o ambiente”, afirma Rolf Halden, outro dos autores do estudo.

Num mundo perfeito, as lentes de contacto seriam biodegradáveis. Como isto não é ainda uma realidade, o ideal é guardar estes produtos usados ou fora de validade e entregá-los em postos de recolha para que possam ser reaproveitados. Representantes do sector como a GrandOptical, a Multiópticas e a Optocentro têm programas para receber estes resíduos, que são posteriormente enviados para a Universidade do Minho para revalorização. Estas iniciativas ocorrem no âmbito da campanha “Por um Planeta Sustentável: Vamos dar Uma Nova Vida às Lentes de Contacto”, promovida pela Escola de Ciências em parceria com os Serviços de Acção Social e a Associação Académica daquela instituição académica.

Caso não tenha mesmo disponibilidade para entregar as lentes nos postos de recolha, resta a opção de juntar estes produtos inutilizados num recipiente e colocá-lo depois no lixo comum. A embalagem de plástico e a tampa de alumínio devem seguir para o contentor amarelo, ao passo que a caixinha de cartão deve ser depositada no azul.

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