Papa nomeia 20 cardeais e torna o Vaticano menos europeu

Com as nomeações feitas até agora por Francisco, os equilíbrios geográficos e políticos mudaram de forma significativa. Este domingo, homenageia-se Celestino V, o primeiro Papa a renunciar.

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Papa diante dos cardeais este sábado Reuters/VATICAN MEDIA

Durante um muito esperado consistório, o Papa Francisco nomeou este sábado novos cardeais, incluindo vários que virão a eleger o seu sucessor, com escolhas que reflectem a sua opção de descentralizar a governação da Igreja Católica, aumentando o número de responsáveis de países periféricos, e diminuindo o peso da Europa (e de Itália) na cúpula do Vaticano.

Entre os 20 novos cardeais, 16 terão direito a votar no próximo conclave na Capela Sistina, onde acontece a eleição de cada novo Papa (quatro não poderão fazê-lo por terem já ultrapassado os 80 anos). Seis pertencem a países pobres, incluindo alguns onde o cristianismo representa uma pequena parte da população. Com estas nomeações, o número de cardeais aumenta para 226 e o de eleitores passa a ser de 132. Entre estes, 83 foram escolhas do Papa argentino.

Analisando todas as nomeações feitas até agora por Francisco, os equilíbrios geográficos e políticos mudaram de forma significativa. Antes da sua eleição, havia onze cardeais eleitores oriundos da Ásia e da Oceânia; agora há 24. Alguns vêm de países que nunca tinham tido um cardeal, como Timor-Leste (Vergílio do Carmo da Silva) ou a Mongólia.

Ao mesmo tempo, a Europa que tinha 60 cardeais passa a ter 54, enquanto o número de cardeais eleitores italianos baixa de 28, em 2013, para 14 (só no final do ano, quando alguns chegarem aos 80 anos).

Estas escolhas, diz ao diário The Guardian o perito no Vaticano Bernard Lecomte, são “representativas da igreja actual, com grande espaço para o hemisfério sul”, vivem 80% dos católicos do mundo.

Aos recém-nomeados cardeais, Francisco pediu “fidelidade, proximidade e ternura” – ternura é uma palavra recorrente deste Papa, que a usou pela primeira vez pouco depois de ser eleito – e que se ocupem de “cuidar com coragem tanto das coisas grandes como pequenas”.

Este domingo, o Papa irá a L’Aquila, a cidade onde mais de 300 pessoas morreram num terramoto em 2009, para uma homenagem a Celestino V, o primeiro Papa a renunciar ao pontificado antes de Bento XVI, em 2013 – Ratzinger rezou no túmulo de Celestino quatro anos antes de se tornar Papa emérito.

Agora, com Francisco a assumir vários problemas de saúde, alguns vêem na ida a L’Aquila um sinal de que planeia renunciar em breve. Aos 85 anos, o Papa já afirmou várias vezes que vê a renúncia como opção, quando deixar de se sentir capaz de desempenhar a sua missão. Recentemente, garantiu que esse momento ainda não chegou.

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