Ethereum quer mostrar que as criptomoedas não têm de ser más para o planeta

A base de dados por detrás da criptomoeda ether vai mudar a forma como funciona para gastar menos energia.

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O sistema pretende usar menos energia para validar informação na base de dados Unsplash/Kanchanara

A Ethereum, a base de dados por detrás da criptomoeda ether e vários contratos digitais, vai mudar a forma como funciona para consumir menos energia. A mudança para o sistema Ethereum 2.0, anunciada para Setembro, chega numa altura em que a tecnologia por detrás das criptomoedas é alvo de cada vez mais críticas devido à electricidade que consome.

Só a bitcoin, que é a primeira e a mais famosa das criptomoedas, consome mais electricidade do que a Bélgica ou a Finlândia num ano. Os dados são do Index de Consumo de Electricidade da Bitcoin que é compilado pela Universidade de Cambridge no Reino Unido.

Todas as criptomoedas dependem de blockchains – essencialmente, bases de dados distribuídas que guardam um registo, inalterável, de todas as operações feitas em blocos. Na maioria destas bases de dados, as alterações são validadas através de um algoritmo conhecido por POW (sigla inglesa para proof of work – prova de trabalho).

Neste sistema, milhares de computadores ligados à rede competem entre si para ver quem resolve mais rapidamente uma espécie de problema matemático. Quando isso acontece, um novo bloco (por exemplo, com informações sobre transacções) é acrescentado à cadeia de blocos já existente, e todos os utilizadores assumem como fidedigna a cadeia mais longa. A máquina mais rápida é recompensada com criptomoedas.

Este processo gasta muita energia, mas é visto como necessário. Como os utilizadores na maioria das blockchains são anónimos, as transacções são validadas através da chamada “computação bruta”, em vez de sistemas de confiança e verificação de identidade. É a prova de trabalho (POW) que permite que as transacções sejam registadas.

De Pow a POS. O que muda?

A Ethereum quer passar a usar um algoritmo diferente, o POS (prova de participação, em português) que reduz a quantidade de trabalho computacional necessário. Isto vai ser feito ao fundir a blockchain Ethereum, que usa um algoritmo POW, com a Beacon Chain, uma blockchain criada em 2020 que usa o algoritmo POS.

No POS, os membros de uma blockchain que querem validar blocos devem investir uma determinada quantidade de criptomoedas no processo. Isto é visto como uma participação (stake, em inglês). Quando é preciso registar novos blocos, o algoritmo POS selecciona aleatoriamente um dos validadores para realizar o processo e ser recompensado (por norma, com criptomoedas como no POW).

Justin Drake, um dos investigadores da Fundação Ethereum compara o processo de mudança de algoritmo como um carro com motor a combustão que passa a funcionar com um motor eléctrico. “Como é que isso seria feito? Passo um: instalamos o motor eléctrico em paralelo com o motor a combustão. E depois, passo dois, conectamos as rodas ao motor eléctrico e desligamos o motor a gasolina. É isso vai acontecer com a fusão”, detalhou Drake à revista de tecnologia Wired.

O processo deverá acontecer em Setembro. A vantagem mais óbvia é a quantidade de energia que o novo sistema POS permite poupar ao evitar que vários computadores estejam constantemente a competir entre si.

Contrariamente à blockchain da bitcoin, que foi criada para registar transacções com dinheiro digital, a blockchain da Ethereum também permite a criação de aplicações com outros fins, como sistemas para registar contratos ou NFT (uma espécie de recibo digital de bens). Este é um dos motivos que leva a ether (a moeda digital utilizada na Ethereum) a ser descrita como o combustível da base de dados.

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