Lesoto: invernos rigorosos e a única estância de esqui africana a sul do Equador

A estância Afriski, nas montanhas Maluti, está 3000 metros acima do mar. O pequeno enclave é constituído por 80% de regiões montanhosas e recebe milhares de turistas durante os meses frios.

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Montanhas Maluti, a mais de três mil metros acima da no nível do mar Getty

Numa altura em que milhões de pessoas por toda a Europa enfrentam vagas de calor e as mais elevadas temperaturas alguma vez registadas, há um pequeno reino em África cheio de gente a esquiar. Nas montanhas Maluti, no Lesoto, encontra-se Afriski, o único resort e estância de esqui do continente africano a sul da linha do Equador.

Invernos frios são raros na região sul da África, mas nas montanhas do enclave as temperaturas são maioritariamente negativas e a neve cobre grande parte da região. E não é mais uma consequência das alterações climáticas. Este país tem a fama geográfica de ser a única região do mundo onde cada centímetro das suas montanhas fica a mais de mil metros acima do nível do mar.

E é a uma altitude de 3000 metros acima desse nível que opera esta estância de esqui, aproveitando as condições climatéricas únicas da região.

Citado pela Euronews, Meka Lebohang Ejindu, instrutor de snowboard, não esconde o entusiasmo: “Nasci em Londres, mas passei os últimos 12 anos a ensinar esqui e snowboard na Áustria. Esta é a primeira época que faço esqui no Hemisfério Sul, na África do Sul, de onde a minha família é originária. Por isso, para além de um pouco nostálgico, é um prazer fazê-lo num território tão importante para o meu passado.”

A referência à África do Sul tem a sua razão de ser: todo o reino do Lesoto é ladeado por território sul-africano; uma ilha de terra dentro de um país imenso.

Mas nem todas as pessoas que frequentam Afriski são profissionais. A maioria precisa de aulas de esqui para evitar acidentes e poder aproveitar a neve da melhor forma possível, segundo Ejindu.

Este é o caso de Kafi Mojapelo, uma mãe que viajou com os filhos para a região e que conta que nunca ter visto neve na vida. Também percorreu a curta distância desde a África do Sul até ao Lesoto para fazer esqui.“Nunca tinha visto neve e isto é mesmo uma grande experiência”, afirma.

Bafana Nadida, de Joanesburgo, é outro exemplo semelhante ao de Mojapelo. Estava feliz por calçar botas de esqui pela primeira vez e planeou um dia inteiro de aulas e de cursos de fotografia.

Pela fama de ser a única estância de esqui nesta zona do continente africano, Afriski já criou uma competição anual de snowboard e de esqui – a Winter Whip Slopestyle. Ocorreu no mês passado e dezenas de concorrentes participaram.

Sekholo Ramonotsi, um jovem de 13 anos da cidade de Butha-Buthe, no Lesoto, que pratica regularmente em Afriski e que participou na competição, venceu as divisões júnior de snowboard e esqui. Ainda assim, confessa: “Aquilo que eu realmente gostava era de ter a oportunidade de esquiar na Europa; mas existir uma competição destas na África do Sul é emocionante.”

O resort conta com seis pistas e opera entre Junho e Agosto sendo que, num dia mais agitado, a instalação localizada nas montanhas Maluti pode receber mais 300 visitantes. O verão no Lesoto, por outro lado, ocorre entre Novembro a Fevereiro.

“Se estiverem em Afriski durante o Verão, conhecerão apenas metade da história”, explica o próprio resort. “O clima mais quente pode derreter a neve, mas deixa para trás uma incrível rede de trilhos que ligam picos e vales, cataratas e vistas panorâmicas.”

No Verão, as actividades populares incluem caminhadas, mountain bike e cross-country, passeios de mota em trilhos selvagens, saltos em desfiladeiros, natação em rios e pesca.

Cerca de dois terços do Lesoto consiste em montanhas, sendo que a mais alta é o monte Ntlenyana, com um pico de 3482 metros. O país, antiga colónia britânica, é governado pelo rei Letsie III e tem sistema de monarquia constitucional. Actualmente, tem uma população de cerca de 2,1 milhões de pessoas.

O país montanhoso, rodeado pela África do Sul, é vulnerável à instabilidade política que muitas vezes tem motivado interferências militares no processo democrático. Entre 2012 e 2017, o Lesoto realizou três eleições que resultaram em governos de coligação fracturados e em muita instabilidade.

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