Bermudas celebram o primeiro rabino do território

Comunidade judaica do arquipélago ganha o primeiro representante religioso judaico permanente, num território que discriminou judeus durante muito tempo.

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Vista aérea sobre o Pompano Beach Club, em Southampton, nas Bermudas CJ GUNTHER/EPA

É uma prenda para a comunidade judaica, mas também se espera que seja um bónus para o turismo: as Bermudas vão receber o seu primeiro rabino a tempo inteiro.

O rabino Chaim Birnhack e a sua mulher, Menuchy, deverão mudar-se brevemente para a Bermuda, depois de uma visita inicial em que se sentiram “muito bem-vindos”, disse Menuchy. A chegada dos dois ao país vai marcar a fundação de uma Casa Chabad na ilha.

A Casa Chabad é uma organização judaica global que promove um trabalho com a comunidade em todo o mundo e pertence ao ramo ortodoxo hassídico, que dá especial importância à parte mística (em Portugal existe uma Casa Chabad em Cascais).

Segundo a organização, há cerca de 500 pessoas de fé judaica no arquipélago que tem 65 mil habitantes, e segundo o site da Comunidade Judaica das Bermudas, a ilha tem “uma comunidade diversa com membros ortodoxos, conservadores e reformistas, tanto sefarditas como ashkenazes”, sendo que a comunidade se descreve como igualitária (não seguindo a tradição ortodoxa de separação entre homens e mulheres no ensino religioso), diz o Jerusalem Post. A Casa Chabad deverá ter uma orientação ortodoxa, “aberta a todos os tipos de judeus, como faz em todo o mundo”.

Os Birnhack serão a 13ª família a abrir uma Casa Chabad em ilhas do Atlântico Norte. A primeira foi fundada em Porto Rico em 1999, nota a organização, citada pelo Jerusalem Post.

A ideia de ter um rabino permanente ocorreu a um habitante local, Brett Lefkowitz, que trabalha no Ministério da Saúde, depois de ter lido sobre a fundação de uma Casa Chabad nas ilhas Caimão. A iniciativa foi tomada independentemente da Comunidade Judaica das Bermudas.

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Discriminação antiga

As Bermudas têm uma comunidade comparativamente pequena em relação às Ilhas Caimão, que têm várias comunidades judaicas, nota o diário The Royal Gazette. No século XVII, a ilha aprovou leis discriminatórias para os mercadores judeus – uma lei que foi alterada 66 anos mais tarde, por ser evidente que as ilhas vizinhas tinham prosperado mais graças ao comércio com judeus.

Mas a ilha continuou a ser pouco hospitaleira para viajantes e turistas judeus: ainda nos anos 1960 não era permitida a entrada a pessoas judias em alguns hotéis e estabelecimentos de lazer, lembra o portal de notícias da Casa Chabad.

Apesar disso, nos últimos anos havia contactos e visitas regulares de rabinos num programa de “rabinos itinerantes (“Roving Rabbis”) da Casa Chabad. Mas “nunca tivemos um rabino a tempo inteiro ou um líder espiritual que pudesse inspirar a comunidade e atrair também novos residentes” para a ilha, disse Waren Bank, advogado, que se mudou do Reino Unido para a Bermuda em 2021.

Brett Lefkowitz disse ao jornal The Royal Gazette que este é “um modo de ajudar a comunidade [judaica] na Bermuda, e também esperamos que ajude a desenvolver o turismo e a atrair mais pessoas”. Lefkowitz sublinhou que o grupo tem uma boa reputação: “é conhecido por não ser preconceituoso, por cuidar e aceitar, e não ser estrito”, sublinhou. “São muito abertos. A casa pode atrair pessoas”. A ideia da Casa Chabad é que sejam organizados eventos pelo rabino e sua mulher.

A “capital do risco”

Também há esperança que a presença permanente do rabino possa levar a que haja mais oferta de comida e catering kosher na ilha, o que poderia, por sua vez, atrair mais turistas judeus, em especial para cerimónias de casamento. “Há muito poucos lugares no mundo tão bonitos como a Bermuda”, garante Lefkowitz. “Penso que isto é algo que pode continuar a crescer.”

A proximidade dos Estados Unidos – são duas horas de voo a partir de Nova Iorque, por exemplo – as praias e o clima são fortes atractivos nas Bermudas. Também as oportunidades de negócio na que é conhecida como “a capital mundial do risco”, com grande presença da indústria Seguradora e Resseguradora.

Ao mesmo tempo, a Bermuda está no topo das listas dos mais caros para viver. Por isso, o rabino e a mulher ainda estão à procura de um local para fazer a sua residência e a Casa Chabad.

Na sua conta de Instagram, o rabino Chaim Birnhack, que estava desde 2019 em Hong Kong, está a divulgar uma campanha de recolha de fundos com o mote “Paraíso na Terra”, para ajudar “a transformar um oásis físico num paraíso espiritual”.

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