Quando é que o adolescente deve ir ao médico?

Apesar de classicamente se considerar que os adolescentes são uma população saudável, não deixam de ser um grupo vulnerável e com doenças específicas que muitas vezes só tardiamente são detetadas e tratadas.

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"As repercussões da pandemia fizeram-se sentir intensamente entre adolescentes" Paulo Pimenta/Arquivo

Estima-se, atualmente, que um quarto da população mundial corresponde a jovens e adolescentes — entre os 10 e 24 anos. Apesar de classicamente se considerar que os adolescentes são uma população saudável, não deixam de ser um grupo vulnerável e com doenças específicas que muitas vezes só tardiamente são detetadas e tratadas.

A propósito do Dia Mundial da Juventude, que anualmente se assinala a 12 de agosto, é importante lembrar os cuidados a ter com a saúde dos jovens.

Efetivamente após a entrada na adolescência — período entre os 10 e 19 anos, de acordo com Organização Mundial da Saúde —, as famílias vão perdendo o hábito de levar os seus filhos às chamadas consultas de rotina, perdendo-se oportunidades cruciais de intervenção.

Embora, no programa nacional de saúde infantil e juvenil, estejam previstas três consultas entre os 10 anos e 18 anos, a experiência mostra-nos que é insuficiente. Idealmente deveria ocorrer uma consulta médica anual, onde fossem avaliados vários parâmetros fundamentais para um crescimento e desenvolvimento adequados.

É na adolescência que ocorre o segundo pico máximo de crescimento estatural e associadamente é formada 40% da massa óssea. É, por isso, fundamental avaliar como se está a processar o crescimento, bem como analisar as caraterísticas da alimentação, já que o aporte alimentar nesta etapa de vida é muitas vezes subvalorizado.

Crianças que entrem na adolescência obesas geralmente transitam para a idade adulta também obesas, pelo que a intervenção atempada poderá fazer a diferença.

As repercussões da pandemia fizeram-se sentir intensamente entre adolescentes em várias vertentes, com particular ênfase nas questões da alimentação, quer com aumento da obesidade quer com aumento exponencial de casos de perturbação de comportamento alimentar (anorexia/bulimia nervosa), apenas referenciadas em fases tardias da doença.

Outras situações como por exemplo, doenças urológicas ou ginecológicas devem merecer diagnóstico e orientação atempados. O rastreio de anemia após primeira menstruação deve idealmente ser efetuado anualmente. Problemas osteoarticulares associados ao crescimento rápido devem ser igualmente rastreados. E as caraterísticas do sono estão também intimamente relacionadas com o crescimento, peso e rendimento escolar.

Ao contrário do que se pensava há algumas décadas, a adolescência é o maior e mais dinâmico período de desenvolvimento neuronal, durante o qual ocorrem as maiores remodelações dos circuitos comportamentais. No entanto o córtex pré-frontal, responsável pelo controlo dos impulsos, só completa o seu desenvolvimento mais tardiamente, já na entrada da idade adulta, este facto permite-nos compreender facilmente que os adolescentes tenham mais dificuldade em controlar os seus impulsos e menor capacidade de avaliação do risco/benefício dos seus atos.

A puberdade tem vindo a antecipar-se nas últimas décadas. Ocorrendo um desfasamento entre o desenvolvimento físico e o cognitivo, os adolescentes estão mais sujeitos a comportamentos de experimentação e risco. O alargamento do período pré-marital e início mais precoce de início de atividade sexual pode também contribuir para o aumento de alguns comportamentos de risco e consequentemente, aumento do número de infeções sexualmente transmissíveis, que devem ser rastreadas.

Questões relacionadas com vacinação, sedentarismo, prevenção de comportamentos de risco online, acidentes e consumo/dependência de substâncias aditivas devem igualmente ser abordadas.

Na adolescência o pensamento abstrato ainda não se encontra completamente desenvolvido, pelo que os adolescentes têm grande dificuldade em projetar-se no futuro. É muito importante transmitir aos pais estas questões para que as estratégias educativas, de motivação e intervenção sejam focalizadas no curto, ou quando muito, no médio prazo e por conseguinte melhor sucedidas. Deve também ser incentivado o diálogo em família, a importância de transmissão de mensagens claras, assertivas e não contraditórias, com estabelecimento de regras e limites bem definidos, usando a negociação como importante arma na vida diária de seus filhos.

O acompanhamento médico regular nesta faixa etária deve ser visto como uma oportunidade de prevenção, promoção da saúde e esclarecimento de dúvidas relacionadas com este período tão importante do desenvolvimento humano.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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