Que planos de gestão de recursos humanos têm as escolas?

E se considerarmos os professores como profissionais de mercado de trabalho tal como tantos outros profissionais?

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"Aquilo que fizermos com e para os professores, estaremos a fazer aos alunos" Jose Sergio/Arquivo

Já uma vez escrevi que as escolas deviam funcionar como empresas. Algumas das novas escolas privadas são geridas como empresas, mas a grande maioria não.

Nesta altura, pergunto-me se estamos a educar os futuros cidadãos, que também serão oferta para o mercado profissional, em linha com os padrões de trabalho que temos agora.

E se considerarmos os professores como profissionais de mercado de trabalho tal como tantos outros profissionais?

Enquanto os líderes das empresas foram, na altura da pandemia, apoiados e apoiaram as suas equipas no campo da saúde e bem-estar, na agilidade da entrega dos produtos e serviços, na inovação e tecnologia, no trabalho em equipa, no investimento em aprendizagem e desenvolvimento, o life long learning, na descoberta e retenção de talentos, em novas políticas de recursos humanos, como seja a escolha entre o teletrabalho, o trabalho híbrido e o trabalho presencial, e em tantas outras premissas, os professores voltam ao estado pré-pandemia.

Onde estão os planos de saúde e bem-estar das escolas? E o investimento em aprendizagem contínua que efetivamente faz a diferença na performance dos professores? O trabalho dos professores está intimamente ligado ao que entregam aos alunos, ou seja, ao que ensinam.

Aquilo que fizermos com e para os professores, estaremos a fazer aos alunos. Bem sei que há profissões, como esta, que não podem ser feitas à distância, ou podem, mas os resultados não são os mesmos, pois depende muito das relações pessoais estabelecidas entre professores e alunos.

Algumas organizações de referência têm feito investimentos significativos nas lideranças para conseguirem ter sucesso na sua ação à distância, no modo como motivam as suas equipas, promovem a coesão, e alicerçam o propósito da organização.

À distância ou presencialmente é fundamental o desenvolvimento do sentido de pertença, de inclusão e de diversidade. Como pensam os líderes educativos cuidar das suas pessoas, dos seus professores, assistentes operacionais, alunos e famílias? Que planos estratégicos existem para que este desenvolvimento seja feito nas escolas?

Todos sabemos, na primeira pessoa ou pelo que vamos lendo, que as empresas cada vez mais se preocupam não com equilíbrio entre vida profissional e vida familiar dos seus colaboradores, mas com a integração da vida profissional, pessoal e familiar como um todo, e daí a possibilidade dos diferentes tipos de trabalho. Como vai continuar a escola a funcionar? Que planos existem para os seus preciosos colaboradores?

Hoje em dia muito se fala de felicidade no trabalho, com o desenvolvimento de formações certificadas que conferem cargos e títulos de Chief Happiness Officer, CHO. Sem querer que isso aconteça nas escolas, mas que a preocupação com o bem-estar físico e psicológico dos professores e dos demais intervenientes seja uma realidade evidente, pois cuidando daqueles que promovem e orientam a aprendizagem, estaremos a proporcionar e a entregar boas soluções, produtos e serviços aos alunos e às famílias. E as escolas entregam tudo isso: soluções, produtos e serviços.

Concorre para esta situação as alterações necessárias ao processo ensino-aprendizagem, com inovação e atualização de métodos, recursos e instrumentos. As mudanças não podem ser radicais nem abruptas, a não ser numa situação de crise e emergência, e devem ser graduais.

As mudanças na escola devem ser encaradas como parte da evolução normal da inovação e atualização, acompanhando todo o evoluir da sociedade e as necessidades que estão a ser satisfeitas. Não podemos continuar a educar no século XXI, à maneira do século XIX e XX e querer que de um momento para o outro sejamos profissionais dos dias de hoje, com internacionalidade, diversidade, equidade, com equipas Scrum, ágeis, em ambientes diferenciados.

Nada disto se prepara na escola, nem na universidade. A evolução que as empresas têm feito na área da gestão de recursos humanos e de entrega de resultados aos seus clientes, devia ser estendida à escola em muitas situações.

Não nos podemos esquecer que todos nós, sem excepção, passámos pelas mãos dos professores e que estes devem estar o melhor possível, a todos os níveis, para conseguirem ter uma alta performance e entregar um trabalho de excelência, para termos, no futuro, excelentes profissionais. Que possam estar aqui algumas ideias e inspirações para as lideranças educativas no regresso à escola.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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