Melissa tinha um sonho e agora concretizou-o: casar com os trajes tradicionais do Kosovo

Nos casamentos tradicionais da vila de Donje Ljubinje o rosto da noiva é pintado e adornado com pontos vermelhos, azuis, dourados e prateados.

relacoes,bosnia,tradicao,impar,casamento,kosovo,
Fotogaleria
Já só há uma mulher na vila do Kosovo a dominar a técnica de pintura do rosto da noiva Reuters/STRINGER
relacoes,bosnia,tradicao,impar,casamento,kosovo,
Fotogaleria
A noiva nos trajes tradicionais Reuters/STRINGER
relacoes,bosnia,tradicao,impar,casamento,kosovo,
Fotogaleria
O processo de pintura demora cerca de duas horas Reuters/STRINGER
Fotogaleria
A norte-americana Melissa Guerrero foi casar ao Kosovo Reuters/STRINGER
relacoes,bosnia,tradicao,impar,casamento,kosovo,
Fotogaleria
A festa do casamento dura dois dias Reuters/STRINGER

Para os bósnios da vila de Donje Ljubinje, no Kosovo, a cerimónia de casamento é também uma mostra de arte. A tradição secular divide-se em dois dias, entre um festival de música e outro de dança, cuja protagonista é uma noiva resplandecente no tradicional traje bósnio. Fascinada pela tradição, a norte-americana Melissa Guerrero foi casar ao Kosovo.

Em 2013, Melissa visitou pela primeira vez a vila, perto da cidade de Prizren, para o casamento de um familiar do seu namorado. Ficou fascinada com o que encontrou e, desde então, que sonhava fazer uma cerimónia igual.

O sonho foi concretizado na semana passada. Vestida da cabeça aos pés com o traje tradicional, Melissa, 30 anos, deixou que o seu rosto fosse pintado de branco e adornado com pontos vermelhos, azuis, dourados e prateados. O noivo, Melsid Redzepi, descendente de uma família bósnia a viver no Kosovo, tinha sete anos quando implodiu a guerra naquele país e a família emigrou para os Estados Unidos.

Foto
A norte-americana Melissa Guerrero conheceu o seu noivo, de origem bósnia, no liceu, em Chicago Reuters/STRINGER

“Quando vim cá pela primeira vez, em 2013, tive oportunidade de presenciar um casamento e achei que era algo tão rico e especial. Era algo que nunca tinha visto em qualquer outra parte do mundo”, conta a noiva, uma designer gráfica natural do México, que emigrou aos 11 anos com a família para os Estados Unidos. Foi lá que ela e o noivo se conheceram na escola básica, em Chicago.

Uma arte em vias de extinção?

Enquanto Melissa Guerrero se preparava para a cerimónia, ao som de tambores, o seu rosto era pintado, num processo que demora cerca de duas horas, durante o qual a noiva não pode abrir os olhos, falar, comer ou beber. Simultaneamente, os cozinheiros aprontavam um festim para centenas de pessoas.

Foto
Durante duas horas, a noiva não pode abrir os olhos, falar, comer ou beber Reuters/STRINGER

“Todas aquelas linhas e cores no rosto da noiva simbolizam uma experiência de felicidade, amor, respeito, harmonia e assim sucessivamente”, explica a antiga professora de biologia Xhavit Rexhepi, que escreveu um livro sobre as tradições da cultura bósnia muçulmana.

Ainda que trajes e pinturas do rosto semelhantes, de origem pagã na sua essência, possam ser encontrados em comunidades de países vizinhos, como a Albânia, a Macedónia do Norte, a Bulgária ou a Turquia, a professora assegura que os desenhos dos vestidos de noiva da vila de Donje Ljubinje é único.

Foto
As cores escolhidas são sinónimo de felicidade, amor, respeito e harmonia Reuters/STRINGER

Há 20 anos viviam cerca de três mil habitantes em Donje Ljubinje, um número que reduziu para metade, já que grande parte da população emigrou. Nos meses quentes, Julho e Agosto, são dezenas os que regressam à terra natal para casar e festejar com a família. Há um casamento todos os dias, pelo menos. Às vezes, até são dois. “Quando se nasce aqui não se consegue esquecer”, declara o noivo, Melsid.

Todavia, o número de noivos a querer este tipo de casamento tradicional vai diminuindo a cada ano e já há apenas uma mulher que domina a técnica das típicas pinturas de rosto. Aziza Sefitagic está à beira dos 70 anos e já tentou ensinar a sua arte a outras mulheres da vila — a maioria das aprendizas emigrou, entretanto, para países ocidentais. “Espero que esta tradição não morra comigo”, apela a artista enquanto ultimava os últimos detalhes no rosto de Melissa.

Sugerir correcção
Comentar