Liga vai propor bilhetes para o futebol a metade do preço

Pedro Proença avançou que quer a redução do tecto dos bilhetes para 37,50 euros. Num encontro com jornalistas, o dirigente, que abordou o fim de carreira de Ronaldo em Portugal, defendeu ainda o agendamento de jogos da I Liga no horário da manhã, a paragem do cronómetro nos jogos de futebol e a extinção do Tribunal Arbitral do Desporto.

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Pedro Proença, presidente da Liga LUSA/ESTELA SILVA

“Vamos propor que o tecto para o preço dos bilhetes seja reduzido para metade.” A frase é de Pedro Proença, presidente da Liga de Clubes, e é uma das principais novidades apresentadas pelo organismo nesta quarta-feira, numa sessão de perguntas e respostas com jornalistas que pretende mudar o facto de a Liga estar “muito fechada na comunicação” – palavras de Proença.

No Media Partners Day, iniciativa que a Liga promete repetir mais duas vezes nesta temporada, Proença falou do problema da bilhética como essencial para ter mais espectadores e, questionado pelo PÚBLICO sobre se a Liga tem um valor em específico para propor, o dirigente apontou o corte a metade – que significa, na prática, que os 75 euros + IVA aplicados actualmente como valor máximo permitido poderão ser reduzidos para 37,50 euros.

A promessa de Proença é a de apresentar a medida nesta temporada e tê-la em aplicação em 2023/24, sendo que este tecto de 37,50 euros, aplicado a estádios de nível 1, “só deve ser usado pelos clubes em situações excepcionais”.

De resto, o encontro com os jornalistas acabou por ser um “cocktail” de temas, alguns com relevância no futuro próximo do futebol português.

Jogos de manhã

Uma das preocupações da Liga para esta temporada é a melhoria da qualidade do espectáculo oferecido aos adeptos. Entre as medidas que serão forçadas pelo organismo está a introdução do VAR na II divisão, sob o prisma do aumento da verdade desportiva, e outra é a de introduzir jogos no período da manhã.

A Liga inglesa esteve várias vezes na boca de Pedro Proença como bastião de boas práticas a vários níveis e o dirigente foi questionado sobre a possível aplicação de jogos de manhã, tal como faz o campeonato britânico há vários anos – e com sucesso. Proença lembrou que na II Liga isso já tem sido feito, mas prometeu que está a tentar que essa seja uma realidade na I divisão já nesta temporada.

Apontou, ainda assim, que não é fácil encontrar a solução perfeita para o que chamou “triângulo” entre o interesse dos adeptos, dos clubes e da operadora que pagou pelos direitos de transmissão.

Sem o dizer claramente, o que Proença apontou é que nem sempre os clubes vão estar disponíveis para esses horários e que a própria SportTV terá de se mostrar disponível para trocar o prime time nocturno por um horário matutino que agrade a quem vai ao estádio, mas que possivelmente lhe retire audiências via televisão.

Ainda no plano do espectáculo, Proença falou da necessidade de aumentar o tempo útil de jogo, prometendo a atribuição de um prémio de mérito à equipa que mais promover essa melhoria.

Reconhecendo que o facto de a arbitragem estar sob tutela da Federação Portuguesa de Futebol dificulta o trabalho da Liga, pelo menos no quinhão de influência dos árbitros no tempo útil, Proença apontou en passant algo surpreendente e que, a nível pessoal, considera que poderia ser uma boa medida. “Não faço parte do International Board, mas, até pensando como ex-árbitro, acho que parar o cronómetro quando o jogo pára poderia ser uma boa medida”, disse, num tom que evidenciava apenas uma reflexão, mais do que uma proposta que a Liga consiga pôr em prática.

Dinheiro para os clubes

O presidente da Liga falou bastante também do muito badalado tema da centralização dos direitos televisivos.

Proença voltou a apontar 2025/26 como data de apresentação da proposta e 2027/28 como momento da aplicação. “Isto vai mesmo acontecer”, garantiu, não recusando que estes prazos possam ser antecipados: “Há alinhamento com os três ‘grandes' para que o processo corra bem e seja antecipado, porque não podemos ter uma Liga competitiva quando há um rácio de 1 para 15 entre os que mais recebem e os que recebem menos.”

A maior novidade surgiu mesmo quando o ex-árbitro traçou uma ligação entre a qualidade das transmissões e o dinheiro recebido: “Quem não cumprir preceitos nas condições do estádio, nas câmaras, na iluminação, etc., será penalizado quando houver a distribuição do dinheiro.”

Também Cristiano Ronaldo esteve na boca de Proença neste tema. Questionado sobre se ter o português a acabar a carreira em Portugal poderia ter impacto no tipo de contrato e nos prazos dos direitos televisivos, o dirigente foi claro: “Se está relacionado? Sim. Podemos optimizar caso isso [vinda de Ronaldo] aconteça. Já tivemos jogadores como Iker Casillas e Pablo Aimar, grandes vedetas que tiveram impacto. A marca portuguesa que melhor representa o país chama-se Cristiano Ronaldo.”

Ainda sobre o dinheiro que os clubes podem receber, Proença garantiu que quer que as apostas desportivas passem a dar aos clubes uma percentagem maior daquela que actualmente está prevista na portaria do Governo. E criticou a tutela: “Se não nos dão nada da ‘bazuca’ que veio do PRR, então que a portaria das apostas seja alterada.”

Castigos mais severos e mais rápidos

Outro tema muito caro à Liga é a necessidade de agilizar as decisões disciplinares a atletas, treinadores e clubes. Apesar de dizer que a disciplina, tal como a arbitragem, é da competência da FPF, Pedro Proença quer que a Liga tenha uma voz activa na matéria. “A celeridade processual é um tema sexy”, caricaturou, para explicar que pretende o agravamento de sanções e a agilização dos procedimentos jurídicos.

E abordou, sem referir nomes, o caso de João Palhinha, cujo processo disciplinar há alguns meses teve recursos inéditos que atrasaram o cumprimento do castigo ao então jogador do Sporting. “Há um cartão amarelo e o arguido tem direito à sua defesa...”, apontou. E acrescentou logo a seguir: “De acordo que tenha. Mas tem de ser tudo muito mais célere. Somos confrontados com direitos dos arguidos que atrasam os prazos de decisão. Queremos reduzir os prazos para resposta e monitorizar as propostas também das sanções.”

E criticou a existência do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD): “Consideramos que a figura do TAD não deveria existir. O poder político deveria centrar-se na criação de um tribunal desportivo que tratasse destes temas de forma eficaz, com processos céleres e capazes. Enquanto a tutela não tomar esta decisão, percebendo que depois de um castigo do Conselho de Disciplina há um recurso para o TAD e depois para o central, andamos de câmara em câmara sem decisão final.”

Neste âmbito, Proença lamentou ainda que não esteja a ser aplicada a medida de apresentação numa esquadra de elementos impedidos de entrar em estádios, algo que considera ser essencial para credibilizar a justiça desportiva e criar segurança nos estádios – algo que o dirigente relacionou, mais do que uma vez, com a melhoria do espectáculo, com o regresso das famílias ao futebol e com o aumento das assistências (que pretende que subam nesta temporada 5% em relação à última época completa com público, 2018/19, para chegar a uma média de 4460 adeptos).

Pedro Proença abordou ainda outros temas “soltos”. Um deles foi a intenção de começar a monitorizar os investidores que querem entrar nos clubes e constituir projectos de SAD e o outro foi a Taça da Liga e o projecto antigo de atribuir ao vencedor da prova um lugar nas competições europeias.

Apesar de o crescimento da prova ser uma das bandeiras recentes da Liga, o dirigente aponta que, para já, não vê como dar um lugar europeu ao campeão da Taça da Liga: “Não antecipamos que quem ganhe possa ter esse lugar, até porque essa decisão cabe aos clubes e Portugal tem vindo a perder lugares europeus.”

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