Von der Leyen: transição para o carvão “deve ser uma solução temporária”

Em entrevista ao Diário de Notícias, a presidente da Comissão Europeia recorda que corte de 15% no consumo de gás só se torna obrigatório “no caso de um corte total do gás russo e de uma grave deterioração da situação”.

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Com a redução de 15% no consumo do gás "“podemos passar este Inverno numa situação de segurança”, afirmou von der Leyen EPA/STEPHANIE LECOCQ

Para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, as dificuldades colocadas no sector da energia devido à crise provocada pela Rússia com a invasão da Ucrânia, com substituição de combustíveis, podem incluir uma nova transição para o carvão – mais poluente –, “se necessário”, e como “solução temporária”.

“As energias renováveis ou as opções menos poluentes são preferíveis, mas insisto sempre no facto de os países europeus serem soberanos na escolha do seu cabaz energético”, diz a presidente da Comissão em entrevista ao Diário de Notícias, publicada este sábado. Em termos estruturais, von der Leyen defende: a actual crise energética “está a fazer com que aceleremos o ritmo da transição para as energias limpas”.

“Com o nosso plano REPowerEU, estamos a trabalhar em duas outras vias. Em primeiro lugar, investimentos maciços em energias renováveis. Porque são boas para o planeta e são benéficas para a segurança do nosso aprovisionamento. E, dado que são produzidas internamente, são também boas para a nossa independência. Em segundo lugar está a diversificação dos aprovisionamentos”, explicou.

A responsável pela Comissão Europeia destacou que estão a ser feitas compras de gás a mais mercados, e que “é crescente o número de países que, em todo o mundo, intensifica a respectiva produção”.

“Outra dimensão”, disse, é a importância que o plano europeu “dá à melhoria das ligações transfronteiriças” de energia, um aspecto que “é particularmente relevante para Portugal”. “A Península Ibérica no seu conjunto pode, de facto, tornar-se uma plataforma para o GNL [gás natural liquefeito, que chega por navio] proveniente de África e das Américas e com destino à UE”, vincou.

Sobre a redução de 15% no consumo de gás decidida pelos Estados-membros da UE, von der Leyen referiu: com esse objectivo, “podemos passar este Inverno numa situação de segurança”. “Cada Estado-membro decide de que forma vai atingir esta meta”, disse, explicando que “só no caso de um corte total do gás russo e de uma grave deterioração da situação é que a meta se tornaria vinculativa, com base numa decisão conjunta dos Estados-membros”.

“Espero sinceramente que a evolução da situação e as acções dos Estados-membros nos mantenham no bom caminho sem ser necessário impor metas obrigatórias”, acrescentou, sem deixar de frisar que “a Rússia cortou deliberadamente o abastecimento, parcial ou totalmente, a 12 Estados-membros”. “Temos de nos preparar para mais perturbações, ou mesmo para um corte total do aprovisionamento de gás russo”, alertou.

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