Ex-secretário da Defesa de Trump nega ter recebido ordens para reforçar segurança no Capitólio

Comissão especial de inquérito à invasão do Capitólio divulga declaração de Chris Miller feita sob juramento. O ex-responsável havia defendido Trump em público, afirmando que tinha ordens para destacar até 20 mil soldados da Guarda Nacional para Washington D.C. no dia 6 de Janeiro de 2021.

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Trump acusou o Partido Democrata de ter recusado a sua proposta para um reforço da segurança no Capitólio EPA/MICHAEL REYNOLDS

Christopher Miller, o ex-secretário da Defesa da Administração Trump que estava em funções no dia da invasão do Capitólio, disse que nunca recebeu uma ordem formal do ex-Presidente norte-americano para pôr de prevenção um contingente da Guarda Nacional em Washington D.C., em antecipação de possíveis actos de violência no dia 6 de Janeiro de 2021.

A declaração de Miller foi feita sob juramento, perante a comissão de inquérito da Câmara dos Representantes, e foi divulgada pelos membros da comissão. Esta posição de Miller – a única que assumiu sob juramento – desmente declarações anteriores de Trump e do próprio ex-secretário da Defesa.

No dia 9 de Junho, Trump afirmou, na rede social Truth Social, que pôs 20 mil elementos da Guarda Nacional à disposição da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e da presidente da câmara de Washington D.C., Muriel Bowser, nos dias que antecederam a invasão do Capitólio.

“A comissão [da Câmara dos Representantes] já tem a informação de que eu, como Presidente, sugeri o envio de um máximo de 20 mil soldados da Guarda Nacional para D.C., porque se dizia que a multidão ia ser enorme”, disse Trump, em Junho, acusando Pelosi e Bowser (ambas do Partido Democrata) de terem recusado a sua proposta. “Se elas tivessem aceitado, o 6 de Janeiro não teria existido”, afirmou o ex-Presidente dos EUA.

Na mesma altura, no início de Junho, Miller surgiu numa entrevista no canal Fox News ao lado de um outro ex-funcionário do Departamento de Defesa, Kash Patel. Ambos corroboraram a afirmação de Trump, de que a Guarda Nacional tinha sido posta de prevenção.

“O sr. Trump autorizou-nos, de forma inequívoca, a usarmos um máximo de 20 mil soldados da Guarda Nacional”, disse Patel, na Fox News, motivando um pedido de esclarecimento por parte do pivô Sean Hannity: “Vocês os dois disseram isso sob juramento à comissão de inquérito, e sob a ameaça de perjúrio?”

“Absolutamente”, disse Miller. “Essa reunião foi uma das mais pesadas em que eu participei.”

"Nenhuma ordem"

Agora, os congressistas da comissão da Câmara dos Representantes decidiram partilhar uma parte do testemunho de Miller sob juramento, em que o ex-secretário da Defesa diz o oposto daquilo que afirmou na entrevista à Fox News, o canal mais visto pelos apoiantes de Trump.

“Para que não fiquem dúvidas: não só Donald Trump não contactou o seu secretário da Defesa no dia 6 de Janeiro (tal como ficou provado nas nossas audições), como também não deu nenhuma ordem prévia para o destacamento de militares com vista à protecção do Capitólio”, diz a comissão, numa mensagem partilhada no Twitter e em que está incluído o vídeo das declarações de Miller sob juramento.

“Eu nunca recebi nenhuma ordem, nem tive conhecimento de nenhum plano dessa natureza”, diz Miller no vídeo, quando questionado sobre se a Guarda Nacional estava de prevenção para os protestos de 6 de Janeiro de 2021.

“Isso não fazia parte do plano do Departamento de Defesa. Não houve nenhuma ordem directa do Presidente”, afirmou o antigo responsável.

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