Laboratório em Coimbra tem cientistas no papel de “Sherlock Holmes” à caça de doenças em plantas

O Laboratório de Fitossanidade actua na detecção e investigação de doenças das plantas e é, desde Junho de 2022, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação).

Amostras de fungos que procovam doenças em plantas analizadas no Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação), cumprindo com o regulamento da União Europeia, para a deteção e investigação de doenças das plantas, no Instituto Pedro Nunes, Coimbra, 20 de julho de 2022. (ACOMPANHA TEXTO DE DIA 24 DE JULHO DE 2022). PAULO NOVAIS/LUSA
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Amostras de fungos que provocam doenças em plantas PAULO NOVAIS/Lusa
Investigadores trabalham no Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação), cumprindo com o regulamento da União Europeia, para a deteção e investigação de doenças das plantas, no Instituto Pedro Nunes, Coimbra, 20 de julho de 2022. (ACOMPANHA TEXTO DE DIA 24 DE JULHO DE 2022). PAULO NOVAIS/LUSA
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Investigadores trabalham no Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação), cumprindo com o regulamento da União Europeia, para a deteção e investigação de doenças das plantas, no Instituto Pedro Nunes, Coimbra, 20 de julho de 2022. (ACOMPANHA TEXTO DE DIA 24 DE JULHO DE 2022). PAULO NOVAIS/LUSA PAULO NOVAIS/Lusa
Amostras de fungos que procovam doenças em plantas analizadas no Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação), cumprindo com o regulamento da União Europeia, para a deteção e investigação de doenças das plantas, no Instituto Pedro Nunes, Coimbra, 20 de julho de 2022. (ACOMPANHA TEXTO DE DIA 24 DE JULHO DE 2022). PAULO NOVAIS/LUSA
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Amostras de fungos que procovam doenças em plantas analizadas no Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação), cumprindo com o regulamento da União Europeia, para a deteção e investigação de doenças das plantas, no Instituto Pedro Nunes, Coimbra, 20 de julho de 2022. (ACOMPANHA TEXTO DE DIA 24 DE JULHO DE 2022). PAULO NOVAIS/LUSA PAULO NOVAIS/Lusa
Amostras de plantas para serem analizadas no Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação), cumprindo com o regulamento da União Europeia, para a deteção e investigação de doenças das plantas, no Instituto Pedro Nunes, Coimbra, 20 de julho de 2022. (ACOMPANHA TEXTO DE DIA 24 DE JULHO DE 2022). PAULO NOVAIS/LUSA
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Amostras de plantas para serem analizadas no Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação), cumprindo com o regulamento da União Europeia, para a deteção e investigação de doenças das plantas, no Instituto Pedro Nunes, Coimbra, 20 de julho de 2022. (ACOMPANHA TEXTO DE DIA 24 DE JULHO DE 2022). PAULO NOVAIS/LUSA PAULO NOVAIS/Lusa

No Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra, descobrir que doenças afectam as plantas pode ser um trabalho que por vezes transforma os investigadores numa espécie de Sherlock Holmes e, tal como na criminologia, também há casos que acabam arquivados.

O Fitolab é, desde Junho de 2022, o único laboratório nacional de sanidade vegetal com ensaios acreditados pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação). Esta estrutura cumpre com o regulamento da União Europeia e actua na detecção e investigação de doenças das plantas.

Naquele laboratório do Instituto Pedro Nunes, por vezes, pode aparecer um produtor com uma árvore morta nas mãos e dizer que tem “mais três ou quatro a morrer”, sem saber o que causa o declínio da cultura. É nesses momentos que os investigadores do laboratório têm de se assumir como “uma espécie de Sherlock Holmes” e tentar descobrir a causa da morte da planta, diz a investigadora Joana Costa, que divide a direcção do Fitolab com António Portugal.

A microbióloga recorda os tempos em que fazia epidemiologia, nomeadamente em torno da legionela, e consegue traçar um paralelo entre o que faz agora com as plantas.

“Andávamos à procura nos reservatórios ou procurávamos no pulmão da pessoa para perceber se era a mesma estirpe. Aqui, fazemos a mesma coisa. Umas vezes, por métodos de cultivo, outras vezes por métodos moleculares. E, agora, até queremos ir mais além e sequenciar o genoma destes organismos para perceber de onde vêm, se são relacionados com outros, quais os factores de virulência associados, mas é epidemiologia pura”, reconheceu.

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A diretora do Fitolab, Joana Costa(à esquerda), acompanhada pela investigadora, Sara Rodrigues, no Laboratório de Fitossanidade (Fitolab), em Coimbra PAULO NOVAIS/Lusa

Este laboratório, que arrancou em 2012 e que conta com suporte científico por parte de docentes e investigadores do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, trabalha com o Governo, autarquias, viveiristas, produtores florestais e agricultores, do Algarve a Trás-os-Montes, num processo que nunca é rápido, mas que pode ter diferentes graus de complexidade.

Casos arquivados sem solução

Há sintomas reconhecíveis que apontam logo para determinadas doenças e organismos, outros em que é preciso ir ao terreno -- algo bastante comum -- perceber se há efectivamente uma doença e de que forma afecta a planta.

“Ainda há pouco, fomos chamados por causa de umas batateiras onde havia uma zona da plantação que estava em pleno declínio. Fomos ver se o problema era da raiz, se era do colo, se estava nas folhas. E acabámos por conseguir identificar o organismo, que era um fungo”, notou.

No laboratório, actua-se em quatro áreas técnicas - bacteriologia, microbiologia, nematologia e virologia -, consoante o agente nocivo que afecta a saúde das plantas. Se, em alguns casos, identificando o hospedeiro e a sintomatologia, torna-se mais fácil descobrir qual a doença, em outros é preciso seguir um processo de tentativa e erro, adianta Joana Costa.

Tal como na investigação criminal, aqui também há casos arquivados, que muitas vezes deixam os investigadores frustrados.

“Há um caso muito interessante, que está a acontecer em Itália e agora também já em França, que tem provocado um declínio das plantações de kiwi, com um impacto que chega a ser de 70% e não percebem o que é. É um cold case [caso arquivado] com cinco anos e há centenas de pessoas a tentar, a darem o seu palpite e ainda ninguém sabe o que aconteceu”, frisou.

Face à possibilidade de novas doenças ou hospedeiros serem identificados no país, a equipa está em permanente actualização, sempre “em cima da literatura científica”.

“Quando identificámos o Diaporthe [um género de fungo] em kiwis, que é uma doença que não estava em Portugal, houve alguém que tinha lido um artigo sobre a doença, sobre os sintomas, voltámos atrás e acabámos por confirmar que era Diaporthe”, recordou, salientando também a importância de trabalhar em rede com outros laboratórios europeus, partilha que permite ajudar a identificar uma doença.

A globalização, as culturas intensivas e as alterações climáticas obrigam a essa necessidade constante de actualização, salientou Joana Costa.

Clima também pode ser cúmplice

No caso das alterações climáticas, as plantas, face às temperaturas extremas e invernos menos rigorosos, acabam por estar mais susceptíveis a doenças - “algumas delas que não tinham efeitos perniciosos, de um momento para o outro, passam a ter efeitos catastróficos”. Além disso, a alteração das condições climáticas pode também significar um ambiente mais propício para a multiplicação de insectos que transmitem as doenças.

Já a globalização tem trazido para o país doenças e hospedeiros que, de outra forma, não chegariam a Portugal. “Temos plantas a chegar aos nossos portos de todo o mundo. Há doenças que nunca chegariam cá e passam a chegar. Um dos casos mais conhecidos é o do nemátodo, que se julga ter entrado pelo porto de Sines, em madeiras exóticas para a Expo 98 e depois estabeleceu-se no país. É, de longe, a principal preocupação para a fileira do pinho”, realçou.

Outra questão que também influencia a progressão de doenças e pragas são as monoculturas que se vão estabelecendo pelo país, nomeadamente no Alentejo e na Beira Interior.

“Onde não há heterogeneidade da paisagem, o organismo nocivo entra e não tem problema nenhum em multiplicar-se e expandir-se”, alertou. Com o intensificar de todos estes fenómenos, espera-se que o trabalho do Fitolab continue a aumentar, com novas doenças e novos hospedeiros que, mais tarde ou mais cedo, acabem por chegar ao país.

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