Há mais infecções vaginais no Verão? Sim, mas é possível preveni-las com alguns cuidados

Evitar deixar os fatos de banho molhados no corpo é crucial para evitar vaginites durante as férias. Privilegie também a roupa interior de algodão e faça a higiene da zona vaginal com água corrente e um sabão neutro, aconselham os especialistas.

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Troque o biquíni ou fato de banho molhado por roupa seca para evitar infecções vaginais Jonathan Borba/Unsplash

O calor e os dias passados na praia ou na piscina não são amigos do bem-estar da flora vaginal e tornam mais propício o aparecimento de infecções vaginais. Ainda que possam afectar qualquer mulher e não estejam relacionadas com falta de higiene ─ como ainda há quem acredite ─ há cuidados a adoptar que ajudam a prevenir vaginites.

A Sociedade Portuguesa de Ginecologia estima que 75% das mulheres sofram, pelo menos, de um episódio de candidíase ao longo da vida. Vaginites é o termo correcto para “definir alterações vaginais causadas por inflamação ou alterações na flora normal da vaginal”, começa por explicar o ginecologista Gonçalo Rosa Rodrigues ao PÚBLICO.

Estas patologias, que podem ser de origem infecciosa ou não, caracterizam-se por alguns sintomas em comum: aumento do fluxo de corrimento vaginal, odor, prurido (vulgo, comichão) e desconforto.

As causas infecciosas mais comuns são a candidíase vulvovaginal, a vaginose bacteriana e a tricomoníase ─ a única que pode ser transmitida por via sexual. “Essas infecções são responsáveis por mais de 90% das vaginites infecciosas”, resume o especialista da CUF Descobertas, em Lisboa.

São também estas as condições mais comuns durante o Verão provocadas por alterações na flora vaginal constituída por lactobacilos, bactérias e fungos, observa a especialista em medicina geral e familiar Nádia Sepúlveda. “Desde logo a culpa é do calor, as zonas íntimas ficam mais quentes e molhadas”, aponta. Não só suamos, como tendemos a utilizar biquínis e fatos de banhos molhados que secam no corpo. “A roupa molhada pode causar a migração de microrganismos da região anal para a região vulvar”, explica.

Por causa desses microrganismos, há um desequilíbrio dos elementos que constituem a flora vaginal. “Crescem mais uns microrganismos do que outros, o que leva a alterações do pH natural da vagina, naturalmente ácido para nos proteger”, esclarece Nádia Sepúlveda.

Há mulheres com maior tendência para vaginites e são essas que devem estar especialmente atentas nesta altura do ano, completa, por sua vez, Gonçalo Rosa Rodrigues: “As mulheres na pós-menopausa que fazem terapia hormonal podem não ter níveis adequados de estrogénio para a saúde vaginal.”

Contudo, não só a menopausa torna as mulheres mais propícias a estas patologias, mas também o pós-parto, a amamentação ─ que geram estados hipoestrogénicos ─ e a toma de alguns contraceptivos hormonais, observa o ginecologista. A médica de família Nádia Sepúlveda nota ainda que as candidíases são igualmente comuns em mulheres com diabetes e em períodos específicos, como quando se tomam antibióticos que interferem com os “lactobacilos protectores”.

A que sintomas prestar atenção?

Quer tenha ou não maior susceptibilidade para desenvolver infecções vaginais, os dois médicos aconselham a estar atenta aos sinais de uma possível vaginite. Nas vaginoses bacterianas a alteração do corrimento é o principal sintoma, principalmente pelo seu “odor desagradável”, esclarece Nádia Sepúlveda.

Já na tricomoníase também há alterações no corrimento que se torna “esverdeado ou amarelado”, causando “irritação nos grandes lábios” da vulva. Além disso, a sintomatologia aproxima-se das infecções urinárias.

Na conhecida candidíase os primeiros sinais são a vermelhidão e comichão, com o aumento do fluxo de corrimento, a apresentar uma textura semelhante à de um iogurte, compara a médica. Nádia Sepúlveda aconselha que também se esteja atento a estes sintomas nos bebés aquando da muda da fralda, já que também eles têm maior tendência a desenvolver infecções fúngicas.

“Quando temos alterações no corrimento ou comichão e vermelhidão, devemos procurar o médico de família”, aconselha. Procurar ajuda é crucial, avisa Nádia Sepúlveda, sobretudo se as infecções forem recorrentes, uma vez que a longo prazo podem ter efeito na fertilidade ou gerar doenças inflamatórias pélvicas.

Como podemos prevenir?

Para prevenir infecções este Verão, evitando o desconforto e até a dor, os cuidados devem começar pela higiene, que não deverá ser “demasiado agressiva”, alerta a médica de família. “Nós temos uma lavandaria pessoa que vai afastar os microrganismos. É uma luta inglória querer acabar com o corrimento. É quase como se tivéssemos uma boca seca sem saliva”, compara, com humor.

Para higienizar a vagina, use água corrente, mas sem lavar demais e interferir com o seu pH naturalmente ácido. Pode usar sabões líquidos desde que tenham pH neutro ou lavar apenas com água. O importante é que não entre directamente água dentro do canal vaginal. Depois das relações sexuais, se possível, lave a zona vaginal e tente urinar, aconselha a especialista.

Prefira sempre a água e evite o uso de toalhitas, sobretudo se forem perfumadas, assim como pó de talco. Na casa de banho, lembre-se do que se costuma ensinar aos mais pequenos, exorta Nádia Sepúlveda: “Limpar sempre da frente para trás para não arrastar microrganismos do ânus.”

Nos dias de menstruação, é crucial trocar os pensos higiénicos, tampões e colectores menstruais “a tempo e horas”. “Durante a menstruação há maior incidência de candidíase”, observa. De evitar é também o uso de pensos diários, já que não deixam a vulva “respirar”. Nesse sentido, prefira também a roupa interior de algodão e não demasiado apertada. E, não se esqueça, troque o biquíni ou fato de banho molhado por roupa seca, para que as férias não se tornam um pesadelo para a sua zona íntima.

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