Comissão de Benificência não vai investigar doações à fundação do príncipe Carlos

Entre 2011 e 2015, o herdeiro do trono britânico recebeu três milhões de euros, em dinheiro, do xeque Hamad bin Jassim. Após as revelações, em Junho, a residência oficial do príncipe negou quaisquer ilegalidades.

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A Clarence House assegurou que o dinheiro foi entregue a uma das instituições do príncipe EPA/NEIL HALL (Arquivo)

A Comissão de Beneficência para Inglaterra e Gales confirmou, esta quarta-feira, que decidiu não lançar uma investigação aos três milhões de euros que o príncipe Carlos recebeu pessoalmente do xeque Hamad bin Jassim, do Qatar, e que foram posteriormente entregues ao Fundo de Beneficência do Príncipe de Gales (PWCF, na sigla original)

“Avaliámos a informação fornecida pela instituição e determinámos que não há mais nenhum papel regulador para a Comissão”, disse um porta-voz da CCEW, assegurando ainda não ter “nenhuma preocupação” relativamente à gestão do PWCF, sublinhando que foi entregue um relatório com as “garantias suficientes” de que foi tudo feito com o devido zelo.

Entre 2011 e 2015, o herdeiro do trono britânico recebeu três milhões de euros, em dinheiro, do xeque Hamad bin Jassim, antigo primeiro-ministro do Qatar, segundo avançou o jornal Sunday Times em Junho. Os três milhões terão sido entregues pessoalmente a Carlos em três tranches. Uma das doações foi feita numa mala com um milhão de euros em notas de 500, durante um encontro na residência oficial do príncipe. Noutra ocasião, o filho da rainha Isabel II recebeu dinheiro em sacos da loja Fortnum & Mason.

Na altura, a Clarence House assegurou que o dinheiro foi entregue a uma das instituições do príncipe, a PWCF, “que levou a cabo a sua gestão apropriada”, seguindo todas as práticas correctas. Entretanto, um dos conselheiros do herdeiro do trono britânico, citado pela Sky News, garantiu que não tem havido mais doações do tipo por mais de meia década e que “não vai voltar a acontecer” no futuro.

No entanto, o grupo de pressão antimonárquico Republic anunciou, na sequência das revelações, ter escrito ao regulador, a Comissão de Beneficência para Inglaterra e Gales, a exigir uma investigação, que agora não se materializa. “Estes pagamentos levantam questões sérias e legítimas que podem prejudicar a reputação do sector britânico de beneficência”, explicou o grupo.

Segundo o Sunday Times, nada indica que os pagamentos tenham sido ilegais. Afinal, instituições de beneficência podem aceitar doações em dinheiro, tinha clarificado antes a comissão.

Outros escândalos sob investigação

Apesar da decisão de não avançar com uma investigação às doações mais recentes, a polícia e a CCEW encontram-se a investigar casos anteriores.

Em Novembro, Michael Fawcett, o braço direito do príncipe Carlos durante décadas, acabou mesmo por renunciar ao seu papel de dirigente de uma das principais instituições de beneficência reais britânicas, semanas depois de o Sunday Times ter noticiado que Fawcett oferecia honras em troca de donativos. Um porta-voz do príncipe de Gales negou que Carlos tinha conhecimento das ofertas, ao passo que Fawcett recusou-se a comentar o caso publicamente.

Já este ano, a Polícia Metropolitana de Londres abriu uma outra investigação à atribuição de prémios e honras a um empresário de nacionalidade saudita a troco de donativos a uma das fundações do príncipe.

O PWCF, fundado em 1979 com a missão de transformar vidas e construir comunidades sustentáveis, concede subsídios a organizações sem fins lucrativos registadas no Reino Unido.

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