Alerta da OMS: 2021 marcado com a maior quebra na vacinação infantil em 30 anos

A expectativa era que 2021 fosse um ano de recuperação para os programas de vacinação a nível mundial – e de regresso aos valores obtidos em 2019. Algo que não aconteceu. O declínio na vacinação ao longo dos últimos dois anos afecta todas as regiões do planeta.

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Entre 2019 e 2021, mais seis milhões de crianças perderam doses de vacina contra difteria, tétano e tosse convulsa LUSA/ANDRÉ KOSTERS

Só em 2021, 25 milhões de crianças perderam pelo menos uma das três doses da vacina contra difteria, tétano e tosse convulsa. Comparado com 2019, antes da pandemia da covid-19, são mais seis milhões de crianças expostas a doenças evitáveis que podem ser fatais. O alerta é dado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Unicef: esta é a maior queda contínua na vacinação nos últimos 30 anos.

“É um alerta vermelho para a saúde infantil. Embora fosse expectável uma ressaca pandémica no ano passado devido aos bloqueios e interrupções da covid-19, o que estamos a ver agora é um declínio sustentado”, aponta Catherine Russel, directora-executiva da Unicef.

A administração das doses da vacina contra difteria, tétano e tosse convulsa são um indicador usado para medir a cobertura da vacinação entre países. Dos 25 milhões de crianças sem a cobertura completa da vacina contra a difteria, tétano e tosse convulsa, 18 milhões não receberam uma única dose desta vacina. “As consequências serão medidas em vida”, diz Catherine Russel, citada no comunicado enviado pela OMS e pela Unicef.

As causas para estes números são muitas e variadas. Devido à pandemia, houve interrupções de serviços e de cadeias de distribuição, desvio de recursos para responder à covid-19 e as medidas de contenção limitaram o acesso aos serviços de vacinação nalguns países.

Estes constrangimentos contribuíram para um agravamento da quebra na vacinação infantil ao longo dos últimos dois anos, mas não são os únicos motivos. Como refere a OMS e a Unicef em comunicado, os ambientes de guerra onde não existe acesso a vacinação e o aumento da desinformação também são fortes motivos para os milhões de crianças que não estão totalmente vacinadas.

A grande maioria das crianças sem acesso a vacinação vivem em países com baixos e médios rendimentos: é na Birmânia e em Moçambique que há uma maior percentagem de crianças que não receberam nenhuma dose desta vacina.

Menos 25% de vacinação contra o HPV

Há mais dados preocupantes da cobertura de vacinação mundial: desde 2019, houve menos 25% doses da vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV, na sigla em inglês) administradas. “Isto tem graves consequências para a saúde das mulheres e meninas, já que a cobertura da primeira da vacina contra o HPV é de apenas 15%, apesar de as primeiras vacinas terem sido licenciadas há mais de 15 anos”, lê-se no comunicado.

A cobertura da vacinação não é um fenómeno exclusivo de regiões com menos rendimentos. Todas as regiões do planeta sofreram quebras nas taxas de vacinação, com particular incidência no Leste Asiático e no Pacífico.

“O planeamento e o combate à covid-19 também devem andar de mãos dadas com a vacinação contra doenças mortíferas, como sarampo, pneumonia e diarreia”, afirma Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS.

A expectativa era que 2021 fosse um ano de recuperação para os programas de vacinação a nível mundial – e de regresso aos valores obtidos em 2019. Algo que não aconteceu: “Este retrocesso histórico nas taxas de imunização está a acontecer num cenário de taxas crescentes de desnutrição aguda grave. Uma criança desnutrida já tem a imunidade enfraquecida e com doses de vacinas perdidas, as doenças comuns da infância rapidamente se tornam letais”, alerta o comunicado.

A OMS e a Unicef destacam que este declínio ao longo dos últimos dois anos soma-se a quase uma década de estagnação na cobertura de vacinação. Em Portugal a vacinação infantil abrange cerca de 95% da população, o que já permitiu erradicar sarampo ou tosse convulsa, por exemplo.

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