Governo do Sri Lanka confirma demissão do Presidente, mas persistem dúvidas

Manifestantes que ocuparam o palácio presidencial no sábado dizem que só vão abandonar o local quando a demissão for confirmada de forma oficial, com o envio de uma carta formal ao presidente do Parlamento.

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Milhares de cingaleses invadiram e ocuparam o palácio presidencial do Sri Lanka, no sábado EPA/CHAMILA KARUNARATHNE

O primeiro-ministro demissionário do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, anunciou, esta segunda-feira, que o Presidente do país, Gotabaya Rajapaksa, confirmou a notícia de que irá sair do cargo na quarta-feira, tal como foi anunciado no sábado pelo presidente do Parlamento.

Ao mesmo tempo, centenas de manifestantes continuam a ocupar o palácio presidencial, em Colombo, e dizem que só vão abandonar o local quando tiverem a confirmação da saída de Rajapaksa através dos meios oficiais — após o envio de uma carta ao líder do Parlamento, o que ainda não terá acontecido.

Segundo o primeiro-ministro — que também anunciou a sua demissão no fim-de-semana —, o próximo passo é a formação de um Governo interino pelo presidente do Parlamento, composto por elementos de todos os partidos com assento parlamentar e no prazo de uma semana após a demissão do Presidente do Sri Lanka.

O problema é que ainda ninguém sabe quando irá começar a ser contado esse prazo, já que o presidente do Parlamento, Mahinda Yapa Abeywardena (do mesmo partido do Presidente do país, a Frente Popular do Sri Lanka), ainda não confirmou em público a recepção da carta de demissão de Rajapaksa.

“Os próximos dias vão ser extremamente incertos em termos políticos”, disse à BBC o comentador político e advogado Bhavani Fonseka, acrescentando que é preciso, antes de mais, perceber se os dois principais líderes do país “vão mesmo demitir-se”.

Descalabro económico

Gotabaya Rajapaksa, de 73 anos, eleito Presidente do Sri Lanka em 2019, é o principal alvo dos protestos de centenas de milhares de pessoas nas ruas da capital do país, Colombo, desde Março.

Com uma economia assente no turismo e dependente de empréstimos e investimentos externos, o Sri Lanka afundou-se com a pandemia de covid-19 e com a invasão da Ucrânia pela Rússia. A inflação oficial chegou aos 55% em Junho e as estimativas apontam para uma taxa de inflação de 70% nos próximos tempos — uma crise que começa a ser comparada ao colapso da economia do Líbano nos últimos anos.

Agora, a crise política pode dificultar ainda mais as negociações para novos empréstimos do Fundo Monetário Internacional e de países como a China e a Índia.

Grande parte da população acusa o Presidente e a sua família de não terem acautelado as consequências das várias crises internacionais, do petróleo à alimentação, e de gastarem fundos públicos em proveito pessoal e em obras vistas como secundárias.

Após meses de manifestações nas ruas, milhares de pessoas invadiram a residência oficial do Presidente, no sábado, e dizem que só vão abandonar o local quando Rajapaksa sair efectivamente do cargo. Também no sábado, os manifestantes atearam fogo à residência oficial do primeiro-ministro.

O Presidente cingalês tinha abandonado o palácio presidencial na sexta-feira, em antecipação dos protestos na capital, e o seu paradeiro é desconhecido. Segundo a BBC, há relatos de que Rajapaksa se encontra a bordo de um navio da Marinha, nas águas do Sri Lanka, e que o seu irmão — o antigo primeiro-ministro Mahinda Rajapaksa — está numa base militar no país.

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