Realizadores iranianos Mohammad Rasoulof e Mostafa Al-Ahmad detidos após críticas contra violência policial

Urso de Ouro em Berlim em 2020, Rasoulof tem um historial de choques com o regime de Teerão. Campanha pela sua libertação une desde o Festival de Berlim à portuguesa Leopardo Filmes.

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Mohammad Rasoulof no Festival de Cannes, em 2013 REGIS DUVIGNAU/REUTERS

O realizador iraniano Mohammad Rasoulof foi detido em Teerão depois de ter feito críticas nas redes sociais sobre a violência do governo do seu país. O autor de O Mal Não Existe, Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim em 2020, foi detido em conjunto com Mostafa Al-Ahmad e, de acordo com os seus produtores, citados pela revista especializada Variety, está em solitária numa prisão normalmente reservada para os presos políticos. A detenção é descrita como “um ataque brutal e coordenado”.

De acordo com a revista Hollywood Reporter, a detenção ocorreu na sexta-feira depois de ambos os cineastas terem, como muitos outros profissionais do vibrante sector cinematográfico iraniano, feito declarações a denunciar a violência usada pelas autoridades do país nas manifestações de Maio contra o desmoronamento de um edifício em que pelo menos 41 pessoas morreram. A polícia terá usado bastonadas e gás lacrimogéneo contra os manifestantes, noticiou na altura a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), citando a sua congénere iraniana IRNA.

Uma hashtag – #put_your_gun_down tem reunido a contestação à resposta das autoridades e os dois realizadores foram apenas alguns dos cerca de 70 artistas que a usaram sob forma de condenação. A AP diz que os realizadores são acusados de ligações a grupos da oposição a operar fora do país e que conspirarão para minar a segurança do país, segundo a IRNA.

Sábado, os produtores iranianos Kaveh Farnam e Farzad Pak emitiram outro comunicado em que descrevem como os cineastas foram “detidos nas suas casas num ataque coordenado e brutal sob acusações falsas”. O comunicado dos produtores iniciou uma campanha que pede a libertação dos dois homens e apela ao apoio da comunidade cinematográfica e artística internacional.

A esse apelo reagiram já instituições como a Coligação Internacional de Profissionais de Cinema em Risco ou o Festival Internacional de Cinema de Berlim, que manifestou “profunda preocupação” pelo sucedido — aliás, quando Rasoulof foi distinguido com o Urso de Ouro, foi a sua filha que o recebeu porque o realizador estava preso sob uma sentença de um ano por a justiça iraniana ter considerado que três dos seus filmes eram “propaganda contra o sistema”. Também o presidente da Academia Europeia de Cinema, Mike Downey, juntou a sua voz ao coro de protesto contra a detenção dos realizadores, e em Portugal “a distribuidora Leopardo Filmes e o Lisbon & Sintra Film Festival associam-se a este protesto”, como fizeram saber em nota enviada às redacções.

O Mal não Existe foi distribuído em Portugal pela Leopardo Filmes e o filme A Man of Integrity integrou a Selecção Oficial em Competição do LEFFEST de 2017.

Já em 2017 Rasoulof tinha ficado sem o seu passaporte e não tem podido viajar para fora do Irão; em 2011 fora detido com Jafar Panahi por filmar sem licença — ambos foram sentenciados a seis anos de prisão, mas foram presos por um ano. Nesse ano, Rasoulof tinha apresentado Goodbye no Festival de Cannes e sido distinguido com dois prémios, que também não pôde recolher.

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