Alguns dinossauros tinham os braços muito pequenos. Novo fóssil ajuda a perceber porquê

O dinossauro Meraxes gigas tinha mandíbulas fortes cravejadas de dentes com 15 centímetros e grandes garras, como era normal em qualquer um dos grandes terópodes. Contudo, apesar do seu grande tamanho corporal, os seus braços tinham apenas 60 centímetros de comprimento.

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Ilustração do dinossauro Meraxes gigas Carlos Papolio
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O crânio do Meraxes gigas Javier Pazo/Lautaro Rodriguez Blanco/Reuters

Na Argentina, foram encontrados fósseis de um feroz dinossauro que tinha uma grande cabeça coberta de protuberâncias e cristas que lembram uma gárgula. Esses fósseis podem agora dar-nos pistas sobre a evolução de alguns dos maiores dinossauros predadores da Terra, incluindo sobre a tendência para terem membros superiores pequenos.

Foi esta quinta-feira que cientistas anunciaram a descoberta no Norte da Patagónia de vários vestígios de um esqueleto de um dinossauro até agora desconhecido, o Meraxes gigas. Nessa descoberta, inclui-se um dos mais completos crânios de um dinossauro carnívoro que se conhece até agora. O Meraxes gigas, que viveu há 90 milhões (durante o período do Cretácico), teria entre 11 e 12 metros de comprimento e quatro toneladas métricas de peso.

Todos os dinossauros carnívoros pertenceram a um conjunto de bípedes chamado terópodes. O Meraxes gigas foi membro de uma linhagem de terópodes chamada “carcarodontossauros”, que incluíam os grandes giganotossauros, também na Patagónia. O crânio do Meraxes gigas media mais de 127 centímetros, de acordo com o paleontólogo Juan Ignacio Canale, do Conicet (Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas argentino) e do Museu Paleontológico Ernesto Bachmann, na Argentina. O estudo foi publicado na revista científica Current Biology.

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O paleontólogo Peter Makovicky com o fóssil do dinossauro Akiko Shinya

“Muitos dos ossos da cara e da parte superior do crânio estavam cobertos com protuberâncias, cristas e estrias, o que lhe dava uma aparência como a de uma gárgula da Idade Média”, descreve o paleontólogo Peter Makovicky, cientista da Universidade do Minnesota (nos Estados Unidos) e um dos autores do estudo.

O Meraxes gigas foi nomeado devido a um dragão da série livros As Crónicas de Gelo e Fogo, que acabaram por inspirar a série de televisão A Guerra dos Tronos. O dinossauro tinha mandíbulas fortes cravejadas de dentes com 15 centímetros e grandes garras, como era normal em qualquer um dos grandes terópodes.

Contudo, apesar do seu grande tamanho corporal, os seus braços tinham apenas 60 centímetros de comprimento. Eram “absurdamente pequenos”, assinala Peter Makovicky. Há outras duas linhagens de terópodes do Cretácico que também tinham elementos com membros superiores bem pequenos, como a dos tiranossauros, que incluía o T. rex da América do Norte, e a dos abelissauros, que incluem o carnotauro, da América do Sul.

Braços pequenos e musculados

Devido aos vestígios incompletos de outros grandes carcarodontossauros, o Meraxes gigas oferece a primeira prova de membros superiores reduzidos neste grupo. Por exemplo, os abelissauros tinham patas com quatro dedos, enquanto os carcarodontossauros tinham três e os tiranossauros duas.

Os cientistas ficaram fascinados por ver e perceber qual a razão para que três dos mais importantes grupos de terópodes tivessem ficado, de forma independente, com braços pequenos e que tinham pouca utilidade na predação. Todos os elementos desses três grupos deveriam ter um tamanho da cabeça maior e o dos membros superiores mais pequeno, o que sugere que era o crânio que deveria abater as presas, dizem os investigadores.

Mesmo assim, embora fossem pequenos em tamanho, os membros superiores do Meraxes gigas eram fortes e musculados. “Apesar da sua poderosa aparência, é difícil imaginar que fossem usados, pois mal se estendem e não deveriam chegar à boca”, supõe Peter Makovicky. “Estou inclinado a pensar que eram usados noutros tipos de actividades, como segurar a fêmea durante o acasalamento ou ajudar a levantar o corpo a partir da posição de bruços”, acrescenta Juan Ignacio Canale.

Algumas outras linhagens de grandes terópodes não seguiram essa tendência. O espinossauro, que tinha um crânio alongado bem-adaptado para a caça de presas aquáticas, tinham braços com um tamanho intermédio. Já os terizinosauros e os deinoqueiros, que tinham uma dieta diferente da de outros terópodes, apresentariam braços relativamente longos com grandes mandíbulas.

Os carcarodontossauros alcançaram o pico da sua diversidade há 90 milhões de anos e depois desapareceram repentinamente. O Meraxes gigas não é o maior da sua linhagem, mas os seus vestígios são dos mais completos entre os carcarodontossauros, tendo quase todo o seu crânio, quadril e membros. Isto permite preencher alguns espaços que estavam vazios na compreensão deste grupo. Por exemplo, com base nas dimensões do crânio do Meraxes gigas, os investigadores voltaram a calcular a dimensão do crânio dos giganotossauros para um comprimento de 168 centímetros. Os giganotossauros, os maiores desta linhagem, eram ligeiramente mais compridos, mas não era tão pesado como o T-rex.

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