IP instala passagem superior e moradores organizam “velório” pelo bairro da Granja

Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia disse que esperava fechar acordo com IP até final de Julho, mas empresa pública avançou com construção de passagem, que era um dos principais pontos de contestação popular.

Foto
Movimento defende a construção a uma passagem inferior pedonal Paulo Pimenta

No final da semana passada aconteceu aquilo que os moradores da Granja, em Vila Nova de Gaia, passaram dois anos a tentar evitar. No âmbito da empreitada de requalificação da Linha do Norte, a Infra-estruturas de Portugal (IP) começou a montar a passagem superior pedonal junto à estação ferroviária daquela estância balnear.

Os residentes não esperaram pelo fim da instalação da estrutura metálica que, consideram, terá grande impacto urbanístico e dividirá a comunidade, para organizar uma acção de protesto. O movimento Cidadãos Praia da Granja apela a que, no domingo, pelas 11h, na estação, os participantes no “Velório pelo Bairro da Granja” compareçam vestidos de negro e com uma vela.

A instalação da estrutura teve início na mesma semana em que o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, anunciou que está em conversações com a IP para encontrar uma solução para a polémica intervenção na linha do Norte. Em cima da mesa, referia a autarquia, estavam as passagens superiores da Granja e da Aguda, bem como as barreiras acústicas. O presidente esperava poder anunciar um acordo até final de Julho.

No entanto, parte da passagem área está já ao alto e as barreiras acústicas continuam a ser instaladas, lamenta o membro do movimento Cidadãos Praia da Granja Daniel Ramos. Acusa também a IP de ignorar “em grande medida as reivindicações da população local”, que receiam o impacto que a estrutura possa ter na mobilidade local.

Contactada pelo PÚBLICO, a IP confirma as conversas com autarquia e acrescenta que a câmara sabia do início da instalação da estrutura da Granja. A câmara mantém-se em silêncio.

A IP dá ainda conta de uma reunião com a autarquia, a 16 de Maio, em que estiveram também presentes representantes do movimento de cidadãos. Foi então “acordado que a IP, tendo como principal objectivo a segurança dos utentes do caminho-de-ferro, manteria a construção da Passagem Superior Pedonal (PSP) na Estação da Granja”, assegura a empresa pública.

Fonte do gabinete de comunicação da IP refere também que ficou “estabelecido que, não obstante a construção da passagem superior, posteriormente”, IP e câmara vão “continuar a trabalhar no sentido de encontrar uma solução técnica alternativa que seja viável”.

Daniel Ramos contesta a versão. “Nessa reunião, foram feitas propostas às quais o grupo ficou de responder”, assegura. Tê-lo-á feito por correio electrónico, por três vezes, sem que tenha havido resposta da autarquia de Gaia. O morador questiona também a possibilidade de se encontrar uma solução alternativa depois de já estar construída a passagem superior, tanto que as fundações desta estrutura podem inviabilizar a instalação de uma passagem inferior no mesmo local, aponta. “Há uma incompatibilidade técnica”, refere. “Quando e com que urgência vai ser encontrada essa alternativa? Quem é que se vai comprometer? Depois de já estarem gastos dinheiros públicos [nesta solução]?”, questiona.

Sobre a hipótese de a estrutura ser temporária, o movimento dá como exemplo o viaduto de Alcântara, em Lisboa, que começou por ter um carácter provisório e acabou por se tornar permanente.

É por verem “frustrados os esforços” de encontrar uma solução que o movimento organiza um novo protesto, no próximo domingo. “Não podíamos ficar sem resposta e sem reacção. Não será pela passividade e pelo cansaço que nos vencem”, assegura Daniel Ramos.

Este não é o primeiro protesto organizado por moradores de Vila Nova de Gaia descontentes com a intervenção da IP naquele troço da Linha do Norte. Em Abril, também o movimento Amigos da Aguda se manifestou contra a instalação de barreiras acústicas de betão que podem chegar aos 3,5 metros e contra a passagem superior pedonal para ali prevista. Em Abril, o movimento de cidadãos da Granja apresentou queixa ao Ministério Público.

Sugerir correcção
Comentar