Autoridades filipinas mandam fechar site de notícias liderado por Maria Ressa

Jornalista laureada com o Prémio Nobel da Paz “pelos seus esforços de salvaguarda da liberdade de expressão” promete contestar a decisão e continuar a trabalhar. O novo Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos, toma posse na quinta-feira.

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Maria Ressa na conferência de imprensa em que prometeu reagir à decisão EPA/ROLEX DELA PENA

As autoridades filipinas ordenaram o encerramento do site de notícias Rappler, que é liderado pela jornalista Maria Ressa. A vencedora do Prémio Nobel da Paz em 2021 vai contestar a decisão e prometeu manter a linha editorial seguida até aqui, frequentemente crítica das políticas do Presidente Rodrigo Duterte.

“Continuaremos a fazer o nosso trabalho. Os nossos repórteres vão continuar a escrever e a exigir acesso [a fontes]”, disse Ressa numa conferência de imprensa, na qual o advogado do Rappler garantiu que ainda é possível recorrer a ordem de encerramento.

A decisão foi emitida pela entidade que regula o mercado financeiro filipino e baseia-se numa outra, de 2018, segundo a qual o Rappler violou a regra de que os meios de comunicação nacionais não podem ser maioritariamente detidos por entidades estrangeiras. Em causa está uma participação da Omidyar, uma empresa filantrópica detida pelo dono do eBay.

O advogado, Francis Lim, que já presidiu à bolsa filipina, argumenta que a Omidyar já não tem laços com o site desde que doou a sua participação ao pessoal do Rappler, mas o regulador diz que o problema se mantém.

“Não vamos abdicar voluntariamente dos nossos direitos, vamos continuar a trabalhar como normalmente”, disse Maria Ressa, considerando que a decisão do regulador não passava de “intimidação” contra o Rappler e contra ela.

Ressa venceu o Prémio Nobel da Paz no ano passado, conjuntamente com o jornalista russo Dmitri Muratov, “pelos seus esforços de salvaguarda da liberdade de expressão”. A jornalista e o site, que investigaram e denunciaram, entre outros, os abusos policiais na chamada “guerra contra a droga” lançada por Duterte, enfrentam diversos processos judiciais por “ciberdifamação” e evasão fiscal.

Rodrigo Duterte abandona a presidência filipina na quinta-feira, o dia em que toma posse Ferdinand Marcos Júnior, filho do antigo ditador com o mesmo nome, que em Maio venceu as eleições por larga margem. O Comité para a Protecção de Jornalistas pediu a Marcos que “acabe com a perseguição implacável” a Maria Ressa e “desista de todos os casos pendentes” contra ela e o Rappler.

Mas há receios de que o apelo caia em saco roto e a liberdade imprensa no país se mantenha ameaçada. Ainda na semana passada, o Governo colocou dois importantes sites noticiosos numa lista de apoiantes de terrorismo devido à sua cobertura das acções militares do Governo contra insurrectos comunistas.

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