Agência da Energia Atómica pede ao Irão diálogo “imediato” para evitar uma crise

Teerão anunciou a decisão de retirar 27 câmaras que permitiam aos inspectores internacionais monitorizar as suas actividades nucleares. Director da AIEA diz que a situação “é muito grave”.

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Rafael Grossi, director-geral da AIEA EPA/CHRISTIAN BRUNA

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) pediu este domingo ao Irão para retomar “imediatamente” o diálogo para evitar uma grande crise que tornaria “extremamente mais complicado” salvar o acordo nuclear iraniano.

Teerão anunciou esta semana a decisão de retirar 27 câmaras que permitiam aos inspectores internacionais monitorizar as suas actividades nucleares, em resposta a uma resolução dos países ocidentais que denuncia a sua falta de cooperação com a agência da ONU.

“Enquanto falo convosco, é isso, essas câmaras foram removidas, juntamente com outros sistemas de vigilância online que tínhamos”, disse o director-geral da AIEA, Rafael Grossi, numa entrevista transmitida pela estação de televisão norte-americana CNN.

É “muito, muito grave”, enfatizou e acrescentou: “A história recente ensina-nos que nunca é bom começar a dizer aos inspectores internacionais: ‘vão para casa'”.

Grossi pediu aos líderes iranianos que “voltem à mesa de negociações imediatamente”.

“Devemos remediar esta situação, devemos continuar a trabalhar juntos”, insistiu, porque “a única maneira de o Irão ganhar a confiança de que tanto precisa para que sua economia prospere”, é permitir “a presença de inspectores da AIEA”.

Rafael Grossi explicou que, sem as câmaras, a agência em breve não poderá dizer se o programa nuclear do Irão continua “pacífico” — por outras palavras, ninguém pode garantir que o Irão não esteja a fabricar uma bomba atómica.

E mesmo que os iranianos voltem a ligar as câmaras dentro de alguns meses, o que fizeram durante esse período permanecerá em segredo, o que pode tornar inútil qualquer acordo que enquadre as suas actividades.

Este novo aumento das tensões ocorre num momento em que os Estados Unidos e as outras grandes potências estão a tentar, com o Irão, salvar o acordo de 2015 que deveria impedir que a República Islâmica adquirisse aquele tipo de armas.

“Ao tomar essas decisões, tornamos extremamente mais difícil o relançamento de um acordo”, alertou o chefe da AIEA.

Os Estados Unidos deixaram o acordo em 2018 sob a Presidência de Donald Trump, que o considerou insuficiente e restaurou as sanções económicas contra Teerão, que em resposta se libertou das principais restrições às suas actividades nucleares.

O actual Presidente dos EUA, Joe Biden, disse que está pronto a regressar ao acordo na condição de o Irão renovar os seus compromissos. Mas as negociações esbarram em obstáculos e parecem mais perto do que nunca do fracasso.

Num contacto no sábado com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir-Abdollahian, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, também pediu “diplomacia bem-sucedida” para salvar o acordo, segundo um comunicado divulgado este domingo.

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