Vaticano anuncia comité de ética para vigiar investimentos financeiros

Entrada em vigor da nova Constituição Apostólica coincide com os rumores de que o Papa Francisco estará a preparar a sua renúncia.

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Francisco começou a aparecer de cadeira de rodas em Maio, após uma pequena cirurgia ao joelho EPA/FABIO FRUSTACI

O Vaticano anunciou esta terça-feira a criação de um comité que terá como objectivo supervisionar os seus investimentos do ponto de vista ético, uma resposta ao escândalo financeiro que abalou a Santa Sé no ano passado e que levou à acusação de dez pessoas, incluindo o cardeal Angelo Becciu, por desvio de fundos, fraude e abuso de poder num negócio imobiliário em Londres, num caso que continua a ser julgado.

O novo comité será liderado pelo cardeal Kevin Farrell, actual prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, assistido por quatro peritos da Alemanha, EUA, Noruega e Reino Unido, e faz parte da nova constituição do Vaticano, Praedicate Evangelium, anunciada em Março pelo Papa Francisco e que entrou em vigor no domingo.

Segundo o Vaticano, a criação deste grupo de especialistas pretende garantir o carácter ético dos investimentos da Santa Sé de acordo com a doutrina social da Igreja e a sua rentabilidade, adequação e risco. Ao mesmo tempo, e de acordo com o artigo 227 da nova Constituição Apostólica, obriga a que o Vaticano faça um esforço para desinvestir em empresas que são consideradas prejudiciais, nomeadamente em sectores como os combustíveis fósseis ou o armamento.

O banco do Vaticano divulgou também esta terça-feira o seu relatório anual, no qual registou, em 2021, um lucro líquido de 18,1 milhões de euros, abaixo dos 36,4 milhões de 2020. O Instituto de Obras de Religião, como o banco é conhecido, adiantou que os resultados estão de acordo com as expectativas baseadas num novo modelo de negócios, assente numa carteira de risco conservadora.

Rumores sobre renúncia

A entrada em vigor da nova constituição do Vaticano coincide igualmente com os rumores sobre uma possível renúncia do Papa Francisco. As especulações surgiram depois de Francisco ter anunciado que visitará, em Agosto, o túmulo do Celestino V, um monge beneditino que liderou a Igreja Católica durante seis meses em 1294 e que foi o primeiro Papa a renunciar ao cargo. Depois dele e antes de Joseph Ratzinger, só outro pontífice tinha renunciado, Gregório XII, em 1415.

A visita à cidade de L’Aquila, que foi arrasada por um terramoto em 2009, ganhou especial significado pelo facto de o agora Papa Emérito, Bento XVI, ter feito a mesma deslocação quatro anos antes de renunciar, em 2013, ao papado.

Para alimentar ainda mais os rumores de que Francisco já estará a preparar a sucessão, o Papa argentino anunciou na semana passada que realizará a 27 de Agosto um consistório no qual ordenará 21 novos cardeais, 16 deles com menos de 80 anos e assim elegíveis para eleger um possível sucessor no próximo conclave.

“É muito estranho ter um consistório em Agosto, não há razão para que o Papa tivesse necessidade de convocar o evento com três meses de antecedência e depois ir a L’Aquila pelo meio”, disse Robert Mickens, editor do La Croix, um jornal católico em língua inglesa, citado pelo jornal britânico The Guardian.

As especulações sobre se Francisco, de 85 anos, poderia seguir os passos do seu antecessor, Bento XVI, começaram a ganhar forma no mês passado, quando o Papa apareceu em público pela primeira vez numa cadeira de rodas, após ter sido submetido a uma pequena operação para tratar uma dor crónica no joelho. Para além disso, Francisco sofre há vários anos de dor ciática, uma maleita que o levou a cancelar várias aparições públicas em 2021.

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