Inflação e efeitos da pandemia geram diferentes expectativas no negócio dos manjericos

Com o regresso dos Santos Populares, regressam também os manjericos. Mas este ano, a inflação dos preços fizeram com que a evolução das vendas não fosse a esperada.

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A compra de manjericos é uma das principais tradições durante os Santos Populares Andreia Carvalho

A produção de manjericos volta a estar em destaque em Junho com o regresso dos Santos Populares, mas entre os protagonistas do negócio os relatos sobre a procura, a inflação dos preços e a evolução das vendas são distintos.

“Este ano tinha tudo para ser um ano muito melhor, mas infelizmente, com a inflação, foi um descalabro no aumento dos preços”, diz Vera Oliveira, proprietária dos Viveiros Vera Oliveira (concelho de Sintra, distrito de Lisboa), em declarações à agência Lusa.

A proprietária decidiu produzir apenas mil manjericos este ano, quando no ano passado vendeu mais. Esta produção não é o seu “forte” e apenas a desenvolve como “complemento”, porque sabe que tem alguma saída. Contudo, admite, “não tem sido rentável o suficiente para o negócio”.

O impacto da inflação na empresa, que produz essencialmente hortícolas, foi sentido no preço da “terra que colocam nos vasos” e nos “preços dos adubos, que triplicou”, segundo Vera Oliveira.

Já Joaquim Araújo, agricultor da Maia, distrito do Porto, conta que já a meio de Maio tinha “muitas encomendas para Lisboa”, apesar de ainda se estar longe das festas, que na capital têm o ponto alto na noite de Santo António, de 12 para 13 de Junho.

O profissional produz todos os anos cerca de 30 mil manjericos e este ano não é excepção - plantou cerca de 30 a 40 mil. Nos dois anos mais afectados pela pandemia não notou uma quebra e “tanto no ano passado como em 2020” continuou a “vender bem”, pelo que não se queixa.

A inflação sentida nos Manjericos Araújo, que vendem maioritariamente para grandes superfícies, é reflectida no preço dos vasos de barro, que “subiram um pouco, mas nada de exagerado”, devido ao aumento do preço de gás natural, frequentemente usado na indústria de cerâmica.

De regresso ao concelho de Sintra, o relato sobre os últimos anos é distinto nos Viveiros Vítor Lourenço, que produzem uma grande quantidade de manjericos anualmente, tendo previsto agora 85 a 90 mil: Marisa Lourenço, engenheira agrónoma responsável pela produção, conta que nesta época produziram “até mais de 10% do que o ano anterior, mas muito menos do que em 2019, possivelmente menos de 30%”.

“É difícil precisar a quantia procurada, devido aos dois anos passados, que vieram a diminuir a produção”, e por essa razão decidiu-se “não arriscar”, refere Marisa Lourenço.

Todos os anos, conta, o preço do manjerico tende “a subir um bocadinho” e este ano subirá certamente devido à inflação, que “aumentou em 20% todas as matérias-primas” entregues pelos seus fornecedores.

A engenheira agrónoma indica também uma dificuldade quanto aos preços dos vasos, que já sofreram uma subida no preço mesmo já com o ano em curso: “Não é normal, normalmente aumentam de ano para ano.”

Até meados de Maio era “difícil precisar” o possível aumento na procura, pelo facto de o viveiro “ainda não ter muitas reservas previamente feitas por parte de grandes clientes, como hipermercados”.

A mesma explicação é dada por Manuela Jacinto, funcionária dos Viveiros Rosa Bacará, em Lisboa, que diz ser muito comum “receber encomendas em cima da hora, quando os clientes se lembram”.

O pequeno negócio de venda de flores passou por grandes dificuldades em 2020 e 2021, devido à pandemia de covid-19, anos em que “quase não se vendeu nada”. Espera-se agora “que este ano seja muito melhor”.

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