Qual é o calcanhar de Aquiles das avós?

Lutamos todos pelo primeiro lugar na vida daqueles que amamos muito, e o nosso único antídoto é rir das nossas próprias inseguranças.

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@designer.sandraf

Querida Filha,

Descobri o calcanhar de Aquiles das avós, aquilo que as faz sair do sério, pelo menos por dentro. E incluo-me nesse grupo, claro. Aqui vai: o que mais ciúmes provoca a uma avó é que os netos tratem a sua rival simplesmente por “a avó”, enquanto quando se lhes dirigem, usam a palavra avó composta com o nome próprio. Estás a perceber? Uma é a “avó”, e a outra a avó Cremilde, a avó Genoveva, ou o que for.

Hihihi, lutamos todos pelo primeiro lugar na vida daqueles que amamos muito, e o nosso único antídoto é rir das nossas próprias inseguranças.


Querida Mãe,

Ui... Não sei se me devo manifestar sobre um assunto tão delicado, sob risco de causar alguma ruptura familiar. Acho que nenhum pai ou mãe está realmente preparado para o impacto que o seu filho provoca nas dinâmicas familiares.

Em muitos casos, essa nossa falta de consciência, concorre para mal-entendidos e, infelizmente, há quem se ofenda de morte. Lembro-me bem de como a mãe tinha pânico de não ter o seu lugar na vida das gémeas, de que à medida que elas crescessem e alargassem o seu círculo de amigos, a avó se fosse tornando mais irrelevante.

Agora, que tenho quatro filhos, olho para esse seu medo com mais ternura e compaixão. Porque é mesmo difícil sentirmos que aquelas crianças são uma parte gigante do nosso mundo, mas que nós podemos vir a ser “só mais uma” das pessoas do mundo deles. De facto, não vejo outro remédio senão rir, sobretudo da forma criativa com que eles dão a volta a tudo. O mini E., neste momento, chama-a — a si! — “a avó da casa azul”, à outra avó, a “avó da piscina”, e ainda tem a avó “do Pinhão”. A boa noticia é que, nos casos benignos, quem fica a ganhar com essa pequenina competição são os miúdos!! É amor que nunca mais acaba, tantas vezes traduzido em chocolates ou num novo fato de banho, coisas boas, portanto.


No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.

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