PCP acusa PS de ser “mais papista do que o Papa” por só olhar para a redução do défice

Numa conferência sobre os 20 anos da circulação da moeda única em Portugal, o secretário-geral comunista afirmou que “a necessária libertação do euro é um processo democrático”.

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Líder do PCP insistiu na saída de Portugal da zona euro LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O secretário-geral comunista acusou esta terça-feira o Governo de ser “mais papista do que o Papa” por cortar na “despesa necessária” e cativar a “despesa orçamentada”, tentando reduzir um défice que podia “servir para a recuperação económica”.

“Muito mal andamos quando o Governo PS, mais papista do que o Papa, desperdiçando oportunidades de suspensão de regras [orçamentais], corta na despesa necessária e cativa despesa orçamentada, para reduzir, de forma contraproducente, um défice que poderia servir a recuperação económica. É esta a opção do Governo PS nos tempos que correm”, argumentou Jerónimo de Sousa.

No final de um debate no Iscte, em Lisboa, sobre os 20 anos de circulação do euro, que começou pelas 10h e se prolongou até às 18h, o dirigente comunista acrescentou que o executivo preferiu mobilizar o excedente orçamental para reduzir a dívida do país, “em vez de reduzir essa mesma dívida por via do crescimento económico”, por exemplo, através “do aumento do investimento público”.

“Assim se manifesta a doença europeísta nos governos dos países independentes. Sem euros nos bolsos, mas com a cartilha do euro na cabeça”, satirizou.

Centrando-se naquele que foi o tema da discussão, o secretário-geral do PCP advogou que a adesão à moeda única europeia “pesou e pesou muito na evolução negativa” do país: “A integração de Portugal no euro foi desastrosa para o crescimento e o desenvolvimento nacionais.”

Jerónimo de Sousa ouviu e sumarizou as opiniões partilhadas ao longo do dia e sustentou que a moeda única, “para Portugal, tornou-se sinónimo de atraso, de recessão, de estagnação, de debilidade de crescimento”.

Na presença do seu antecessor, Carlos Carvalhas, e de vários dirigentes comunistas, como João Ferreira, Vasco Cardoso e Bernardino Soares, o líder comunista disse que o país está “há demasiado tempo dentro do euro” e que isso permite tirar “conclusões seguras, independentemente de crises, de conjunturas e dos governos de turno”.

“Podemos comparar os dois períodos de igual duração, imediatamente antes e depois do euro, isto é, de 1976 a 1998 e de 1999 a 2021. O crescimento anual médio de Portugal foi, no primeiro período, de 3,4% e foi, no segundo, de 0,8%. A realidade é que o país, desde que aderiu à moeda única, reduziu o seu ritmo de crescimento a cerca de um quarto”, completou.

Na ótica do PCP, a solução para fomentar o crescimento socioeconómico do país é a “recuperação da soberania monetária”, uma vez que a “permanência no euro continua a prejudicá-lo muito”. Ou como diz Jerónimo de Sousa, “a necessária libertação do euro é um processo democrático”.

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