Google continua a lutar contra apps espias (sem sucesso)

Há anúncios na Google que prometem ajudar pessoas a espiar os seus parceiros. São proibidos, mas apanhá-los é difícil.

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A Google continua a autorizar anúncios de apps que servem para espiar telemóveis alheios MARK MAKELA/REUTERS

A Google continua a exibir anúncios de produtos e apps móveis criadas para espiar noutras pessoas — particularmente, parceiros românticos — sem o seu consentimento. Muitos prometem serviços para “ver com quem é que a namorada fala” ou “apanhar traidores”. O alerta é feito numa investigação da revista de tecnologia do MIT e da Certo, uma empresa de cibersegurança que se foca em erradicar o problema do stalkerware. Em teoria, desde Agosto de 2020 que estes produtos estão barrados dos anúncios da Google.

Como o nome em inglês sugere, stalkerware (apps de perseguição, em português) são aplicações que são instaladas num dispositivo tecnológico para o monitorizar. Os serviços permitem recolher remotamente mensagens enviadas via telemóvel, informação de GPS em tempo real, dados do historial de navegação na Internet e activar o microfone ou a câmara dos dispositivos.

A procura por estas apps subiu a pique com a pandemia da covid-19. Em 2021, um em cada dez adultos numa relação amorosa admitia experimentar “apps espias” ou para ver o que o parceiro fazia com o telemóvel. Os números, da empresa de cibersegurança Norton, baseiam-se nas respostas de dez mil adultos em dez países, incluindo os Estados Unidos, Alemanha, França, e Japão.

Este foi um dos motivos que levou a Google a proibir “a promoção de produtos ou serviços comercializados com o objectivo expresso de acompanhar ou monitorizar outra pessoa” sem autorização. No entanto, muitos anúncios escapam aos filtros da Google. Um dos problemas é que vários serviços escondem o seu propósito, ao apresentarem-se como produtos para “garantir a produtividade” de trabalhadores numa empresa ou a segurança de menores de idade. A diferença entre este tipo de apps, que são legais, e stalkerware é que os alvos não sabem que estão a ser monitorizados.

Contactada pelo PÚBLICO, a equipa da Google reitera que “não autoriza anúncios de apps de spyware [apps espias] para monitorizar parceiros” e que as aplicações detectadas pela Certo estão a ser revistas.

Um dos desafios da gigante tecnológica é que as políticas para barrar anúncios de aplicações de stalkerware também bloqueiam anúncios para serviços antistalkerware como os que são oferecidos pela Certo. Frases como “use a nossa app para travar o stalkerware” podem ser apanhados pelo filtro da Google que funciona com inteligência artificial.

Em Portugal, instalar tecnologia para monitorizar as comunicações de alguém sem o seu consentimento é ilegal. O artigo 34.º da Constituição determina que “o sigilo da correspondência e dos outros meios de comunicação privada são invioláveis”.

Uma opção para eliminar stalkerware é repor as definições originais de um dispositivo. Antes de escolher esta opção, recomenda-se criar cópias da informação importante no telemóvel (fotografias, documentos, mensagens) que se queira guardar.

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