Hacks sai de Las Vegas e faz-se à estrada

A segunda temporada da série cómica da HBO Max chega esta semana. Falámos com as protagonistas e as criadoras.

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Jean Smart e Hannah Einbinder na estrada em Hacks DR

A veterana Deborah Vance é uma lenda da comédia. Há vários anos que se apresenta num casino em Las Vegas, uma cidade que a trata como uma rainha. Para tentar manter-se actualizada, junta-se a uma jovem argumentista de comédia e estabelecem uma parceria. É esta a premissa de Hacks, a série cómica criada no ano passado por Lucia Aniello, Jen Statsky e Paul W. Downs cuja segunda temporada chega à HBO Max esta quinta-feira.

No papel de Vance está Jean Smart, a brilhante actriz que nos últimos anos tem estado particularmente forte em séries como Fargo, Legion ou Watchmen, e aqui tem uma personagem à sua altura que já lhe valeu um Emmy. Hannah Einbinder, que faz stand-up e é filha de uma lenda da comédia na vida real, Laraine Newman, do elenco original de Saturday Night Live, faz de Ava, a cómica que se junta a ela. Estão à frente de um elenco recheado de estranhas e boas personagens, com nomes como Carl Clemons-Hopkins, o próprio Paul W. Downs, Poppy Liu, Kaitlin Olson, Mark Indelicato ou a revelação que é Meg Statler.

Na segunda época, com oito episódios, Vance e Ava saem de Las Vegas para uma digressão pelo país a testar um espectáculo novo, mais pessoal e fresco do que as piadas que Deborah andava a fazer há anos no casino. “A intenção é pô-la na estrada e empurrá-la para fora da zona de conforto, pô-la a fazer espectáculos em pequenas salas, clubes sujos, num barco, numa feira... Faz parte do objectivo dela regressar e conseguir outra residência em Vegas. Como artista, é tentador manteres-te complacente, especialmente quando chegas àquele nível de sucesso monetário. É assustador e difícil tentar a coisa nova”, explica a co-criadora Jen Statsky ao PÚBLICO numa mesa-redonda com jornalistas via Zoom.

Lucia Aniello, que é também realizadora além de criadora, tendo ganhado dois Emmy por causa da série, um de realização e outro de escrita, partilhado com a sua equipa, queria mostrar “a América como uma coisa muito bonita que ao mesmo tempo está em decadência”, inspirando-se na arte do pintor de paisagens Matthew Cornell.

Há um episódio em que Vance actua a bordo de um cruzeiro com mulheres lésbicas, um grupo que é alvo recorrente das suas piadas. A coisa corre desastrosamente. “Ela confronta grupos de pessoas [que já usou no seu trabalho] e consegue vê-los sob uma nova luz. Não é sempre politicamente correcta, mas olha retrospectivamente para as piadas e vê que talvez não tenham sido óptimas na altura...”, comenta Jen Statsky. Jean Smart diz que os preconceitos de alguém “podem ser fonte de muito humor”. “É uma pessoa com muito mundo, e inteligente, claro, mas é limitada em muitas áreas da vida”, continua. “Ela manteve uma residência em Las Vegas tanto tempo... Há um certo tipo de pessoa que vai ver esses espectáculos quando está a jogar ou a embebedar-se. Ela nunca teve de evoluir muito, por isso é que tem tanta dificuldade agora”. Já Hannah Einbinder sublinha: “Quando ela tinha 25 ou 26 anos era tão progressista, tudo o que ela estava a fazer era, para a altura, novo, louco, inédito. Mas o tempo passa, os padrões culturais mudam, e isso é verdadeiro para todos os comediantes. Conto numa mão aqueles que, do início ao fim, continuam a aguentar-se e a manter-se mentalmente jovens, a ver o mundo com admiração”.

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