Paul Schrader vai receber o Leão de Ouro de Carreira de Veneza

O autor de American Gigolo e O Coração da Escuridão,, e de tantas outras obras memoráveis, será homenageado em Setembro no Lido, numa altura em que está na “fase madura” da sua carreira.

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Paul Schrader, fotografado no Porto em 2009 FERNANDO VELUDO/NFactos

Acabado de sair de trás das câmaras de The Card Counter – O Jogador (2021), e com um percurso que o torna num dos mais admirados cineastas e argumentistas norte-americanos, Paul Schrader vai ser homenageado na edição deste ano do Festival de Cinema de Veneza com o Leão de Ouro de Carreira, anunciou esta quarta-feira a organização do importante festival.

“Paul Schrader é uma figura chave da Nova Hollywood que, do final dos anos 1960 em diante, revolucionou a imaginação, a estética e a linguagem do cinema americano”, diz em comunicado o director do festival, Alberto Barbera. “Não é exagerado dizer que ele é um dos mais importantes cineastas da sua geração, um realizador profundamente influenciado pela cultura e pelo cinema europeus e um guionista teimosamente independente que ainda assim sabe trabalhar por encomenda e mover-se de forma confiante dentro do sistema de Hollywood.”

O realizador e argumentista, cuja filmografia inclui títulos como American Gigolo e que escreveu para Martin Scorsese os guiões de O Touro Enraivecido e Taxi Driver, tem com Veneza uma relação estreita, ainda que recente: foi lá que estreou, no ano passado, O Jogador; antes, em 2018, já ali debutara O Coração da Escuridão (First Reformed), por exemplo. Agora, ver-se-á homenageado na 79.ª edição do festival. “A ousada estilização visual que informa todos os seus filmes põe-no entre os mais actuais expoentes de um tipo de cinema (...) que investiga subtilmente a contemporaneidade”, prossegue Barbera, argumentando que o autor se bate com essa contemporaneidade “não só com uma incansável e compassiva curiosidade, mas também com uma surpreendente capacidade de navegar a evolução tecnológica do cinema, bem como dos seus sistemas de produção e distribuição”. Chama-lhe um “daredevil”, um temerário, que nos últimos anos, já na “fase madura” da sua carreira, lançou “alguns dos seus filmes mais belos”.

Nascido em 1946 no Michigan, Paul Schrader já trabalhou em mais de 30 filmes, embora tenha começado como crítico de cinema. Na escrita, colaborou com Sidney Pollack e Brian De Palma, por exemplo, mas os argumentos que entregou a Scorsese são os mais incontornáveis: além de Taxi Driver e Touro Enraivecido, escreveu-lhe A Última Tentação de Cristo e Por Um Fio. Em entrevista ao Ípsilon em 2018, descrevia Taxi Driver como"um grito do coração de um jovem rebelde”.

“Nos anos 1960 pensávamos que estávamos a forjar uma nova cultura. Houve de facto uma nova cultura que estava a ser forjada, mas não era a nossa, era aquela que se opunha à nossa. Cinquenta anos depois, suprimiram-nos completamente”, disse na mesma conversa, tida por ocasião da estreia de O Coração da Escuridão.

Schrader começou a realizar no final da década de 1970 e logo em 1980, com American Gigolo, destacou-se também como autor visual. Affliction, de 1998, foi um dos seus grandes êxitos junto da crítica. Dirigiu Harvey Keitel, Ethan Hawke, Nastassja Kinski, Richard Gere ou Oscar Isaac e Tiffany Haddish. “Estou profundamente honrado. Veneza é o Leão do meu coração”, disse, sem mais, na mesma nota partilhada pelo festival, em reacção à homenagem agora anunciada.

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