Museu do Chiado adquire obra de Veloso Salgado que incluirá em exposição em França

Retrato feminino datado de 1894, um óleo sobre madeira, foi adquirido a 20 de Abril num leilão da Casa Renascimento, em Lisboa, por 3.000 euros.

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Pintura reenquadrada de retrato feminino pintado pelo artista português Veloso Salgado JOãO KRULL/cortesia museu do Chiado

Um retrato feminino pintado pelo artista português Veloso Salgado (1864-1945) foi adquirido em leilão pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado e será incluído numa exposição que lhe será dedicada no Verão, em França.

A obra, adquirida num leilão realizado em Lisboa, irá integrar a exposição Veloso Salgado de Lisboa a Wissant. Itinerário de um pintor português, integrada na programação da Temporada Cruzada Portugal-França, que vai ser inaugurada em 6 de Julho, no Château Comtal - Musée de Boulogne-sur-Mer, em França, indicou esta terça-feira o museu à agência Lusa.

Esta exposição que o Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) está a preparar será a primeira do artista naquele país e propõe seguir o seu itinerário francês – Paris, Bretanha e Wissant –, local de ligação de uma amizade com os artistas Virginie Demont-Breton e Adrien Demont, e a Escola de Wissant.

Fonte do museu contactada pela Lusa indicou que o retrato feminino datado de 1894, um óleo sobre madeira, foi adquirido a 20 de Abril num leilão da Casa Leiloeira Renascimento, em Lisboa, por 3000 euros, e possui uma inscrição dedicatória no canto inferior direito: “À mon cher ami/Stiévenart/Douai 1894/Salgado”.

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A obra, adquirida num leilão realizado em Lisboa, irá integrar a exposição "Veloso Salgado de Lisboa a Wissant. Itinerário de um pintor português", integrada na programação da Temporada Cruzada Portugal-França JOãO KRULL/cortesia museu do chiado

Depois de o espólio da casa do artista ter sido legado ao museu, em 2018, pela neta, Conceição Veloso Salgado, o MNAC tem vindo a intensificar o estudo da sua obra, que conta com uma “representação já significativa na colecção” do museu nacional, iniciada pelo historiador de arte e curador do museu Rui Afonso dos Santos, na exposição retrospectiva no MNAC, em 1999. Integram o legado várias pinturas e bastante documentação, incluindo fotográfica, e um núcleo significativo de provas fotográficas, cujo estudo tem permitido avançar no conhecimento da obra deste artista e da sua rede de contactos artísticos em Portugal e em França, segundo uma nota da conservadora do museu Maria de Aires Silveira, que se tem dedicado ao estudo da obra do autor.

Entre Portugal e França

“Artista significativo em Portugal, mas pouco conhecido em França, Veloso Salgado estabelece uma ponte entre os dois países. Depois da primeira fase de estudos, em Lisboa, instala-se em Paris, viaja pela Bretanha, e fixa-se na costa d'Ópale, em Wissant, antes de regressar a Portugal. Professor na Escola de Belas-Artes de Lisboa, decora os grandes monumentos da capital: Escola de Medicina, Museu Militar, Assembleia Nacional, actual Assembleia da República”, entre outros, contextualiza a especialista.

Um conjunto de pinturas oferecidas a Veloso Salgado pelos seus amigos, pintores de Wissant como Virginie Demont-Breton, Adrien Demont, Fernand Stiévenart, Planquette, entre outros e legado ao MNAC será apresentado pela primeira vez, em França, acrescenta. A estas pinturas, juntam-se os retratos de Adrien Demont e de Virginie Demont-Breton, realizados por Veloso Salgado e oferecidos pelo artista aos amigos de juventude, que se mantiveram próximos até ao fim da vida.

Nascido em Orense, Espanha, com 10 anos Veloso Salgado já trabalhava na Litografia Lemos, do tio materno, em Lisboa. Estudou na Academia de Belas-Artes e partiu para Paris, em 1888, já naturalizado cidadão português, e ali trabalhou com o mestre paisagista Jules Breton, relacionou-se com a sua filha e genro, o casal de artistas Virginie Demont-Breton e Adrien Demont.

Veloso Salgado integrou o Grupo da Escola de Wissant, no Norte de França, tornando-se um retratista conhecido na zona de Lille, onde conviveu com paisagistas, e, mais tarde, já em Lisboa, como professor da Academia das Belas-Artes, manteve, através de regular correspondência, uma estreita relação de amizade, ao longo da sua vida.

A pintura recentemente adquirida “aponta para uma troca afectuosa entre artistas deste grupo, evidenciando assim a presença de Veloso Salgado neste conjunto de cerca de 26 pintores, em torno das propostas simbolistas de Adrien e o realismo de Virginie, pintores que também dedicaram obras a Veloso Salgado”, refere ainda a curadora.

Na exposição que o Museu de Boulogne-sur-mer acolherá em Julho serão reveladas estas ligações luso-francesas que cruzam o itinerário de Veloso Salgado com os caminhos da Escola de Wissant. “Estas cumplicidades são fundamentais para uma actualização do percurso artístico de Veloso Salgado, sobretudo entre 1888 e 1900, o período mais ousado do pintor”, acrescenta Maria de Aires Silveira.

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