“Portugal não iria beneficiar” com tributação de “lucros inesperados” da Galp, diz Andy Brown

A cotação do petróleo tem sido benéfica para a Galp e os preços deverão continuar elevados, mas Portugal é apenas uma “parte pequena” dos lucros, diz Andy Brown, a propósito da tributação temporária dos lucros extraordinários.

Foto
O presidente da Galp, Andy Brown Daniel Rocha

O presidente executivo da Galp afirma que o ministro da Economia, António Costa Silva, “disse coisas construtivas” quando afirmou que a taxação dos chamados lucros inesperados das companhias de energia “não é algo que esteja na mesa”.

Num encontro com a imprensa realizado esta quarta-feira, Andy Brown considerou que se deve ter em mente o princípio de que a tributação dos lucros deve aplicar-se às localizações “onde as empresas fazem dinheiro” e que, no caso da Galp, “a grande maioria do dinheiro” não provém de Portugal, nem das actividades de refinação e venda de combustíveis.

“Essa é uma parte muito pequena do lucro da Galp”, sublinhou o líder executivo da petrolífera, mostrando-se favorável à intenção do Governo de recuar no tema de taxar temporariamente os lucros das empresas com a crise energética, que havia sido trazido para a discussão pelo próprio ministro da Economia.

Avançar com uma solução destas “não seria algo de que Portugal pudesse beneficiar”, acrescentou o gestor, lembrando que a actividade petrolífera no Brasil é o motor dos resultados do grupo.

Questionado sobre quem está a lucrar com a crise energética, agravada com a invasão da Rússia pela Ucrânia, Brown admitiu que são os produtores de petróleo, como a Galp, e não os refinadores ou retalhistas, como a Galp, que é uma empresa verticalmente integrada.

Os refinadores estão a ganhar cerca “cinco a seis cêntimos por litro e o Governo está a ganhar um euro em impostos”, adiantou o gestor. “Sem ser o Governo, são os produtores que estão a fazer dinheiro”, afirmou.

Ainda assim, reafirmou que “a volatilidade de preços” do petróleo não é algo que favoreça o modelo de negócio da Galp e que “a estabilidade de preços” é mais benéfica para o investimento.

Electricidade e gás “são preocupação maior"

O presidente da Galp voltou a mostrar-se crítico de alterações ao modelo regulatório do mercado de combustíveis que passem pela introdução de limites às margens das empresas e garante que isso acabará por penalizar os consumidores.

“Temos um ambiente de mercado competitivo” e “somos monitorizados pelo regulador, para garantir que competimos de um modo justo e transparente” - “Portugal é caso único na Europa” ao implementar este tipo de regulação de preços.

O cálculo das margens “e aquilo que cada companhia retém é algo muito complexo” e essa complexidade também advém do facto de as empresas terem os seus postos seja em localizações como as auto-estradas, seja em povoações do interior, “onde os volumes são tão baixos, que podem obrigar a que o preço seja mais alto, para compensar o custo do posto”, argumentou.

“Vamos querer fechar esse posto? Não sei”, disse Andy Brown, notando que a regulação dos preços poderá resultar em “deslocalizações” que vão ser prejudiciais para os consumidores e que este tipo de intervenção deve ser “muito ponderada”.

Andy Brown também considerou que perante o endurecimento das sanções à Rússia, o mundo vai continuar “apertado” no que toca à disponibilidade de petróleo e que, por isso, os preços poderão continuar elevados. Porém, considerou que a electricidade e o gás natural “são um problema muito maior”.

Mostrando-se favorável à proposta dos governos de Portugal e Espanha de limitarem o impacto dos preços do gás natural na formação do preço da electricidade, o presidente da Galp notou que apesar de algum alívio recente, a curva de futuros dos preços do gás “continua muito alta” e isso “vai continuar a afectar os consumidores”.

“Ainda temos de estar preocupados com o preço da electricidade”, sublinhou.

Sugerir correcção
Comentar