Três mulheres e uma artista não-binária na final do Turner

O mais importante prémio britânico de artes visuais anunciou uma short list de artistas de diferentes gerações e origens culturais cujas obras partilham tópicos como o pós-colonialismo, o feminismo ou as questões de género.

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The End, de Heather Phillipson, é uma das obras finalistas Mike Kemp/Getty Images

A lista de quatro finalistas à edição deste ano do prémio Turner, o mais importante galardão britânico no domínio da arte contemporânea, foi anunciada esta terça-feira e inclui três mulheres, duas delas negras, e uma artista não-binária. Ingrid Pollard, de 69 anos, nascida na Guiana, Veronica Ryan, de 66, natural da ilha caribenha de Monserrate, a londrina Heather Phillipson, de 43, e Sin Wai Kin, artista canadiana não-binária, de 31 anos, “impressionaram o júri com a intensidade das suas exposições, que abordam questões importantes com as quais a nossa sociedade hoje se confronta”, resumiu Helen Legg, directora da Tate Liverpool.

Legg é co-presidente do júri, a par de Alex Farquharson, director da Tate Britain, que descreveu como “excitantemente rica e variada” esta short list agora divulgada, e da qual sairá o prémio Turner de 2022, que deverá ser anunciado a 22 de Dezembro. Os restantes jurados são os galeristas e curadores Irene Aristizábal, Christine Eyene, Robert Leckie e Anthony Spira.

A artista britânica Ingrid Pollard, fotógrafa e investigadora, foi escolhida pela exposição Carbon Slowly Turning, mostrada na MK Gallery. Segundo o comunicado da organização, “o trabalho de Pollard usa a fotografia e imagens de paisagens tradicionais para questionar construções sociais como a ‘britanicidade’ [Britishness] ou a distinção racial”.

Nascida em Georgetown, capital da Guiana, Pollard tinha três anos quando a família emigrou para o Reino Unido, onde o seu pai já vivia, e se instalou em Londres. Desde cedo interessada pela fotografia, a artista ficou conhecida nos anos 80 pelas suas imagens de pessoas negras nas zonas rurais inglesas, que desafiavam os estereótipos culturais que tendiam a localizá-las quase exclusivamente nas cidades.

Como Pollard, também a escultora britânica Veronica Ryan, natural da ilha de Monserrate, um território ultramarino do Reino Unido, migrou para a Grã-Bretanha quando era ainda criança, e vive hoje entre Nova Iorque e Bristol. Agraciada em 2021 com a Ordem do Império Britânico, a sua escolha para este leque de finalistas ficou a dever-se à exposição Along a Spectrum, no centro de artes Spike Island, em Bristol, que cruza narrativas pessoais com as suas preocupações ambientais e políticas e um interesse pelo tema das migrações.

O júri considerou ainda as suas obras de arte pública sobre a “geração Windrush” na freguesia londrina de Hackney “uma expressão permanente de solidariedade para com aquela geração” e “um reconhecimento do significativo contributo que deram à vida em Hackney e no Reino Unido”, lê-se no site da instituição que encomendou os trabalhos, a Hackney Windrush Art Commission. O escândalo em torno dos direitos da chamada “geração Windrush” rebentou em 2018, quando largas dezenas de pessoas, maioritariamente com origens caribenhas, mas muitas delas cidadãos britânicos já nascidos no Reino Unido, foram detidas e ilegalmente deportadas.

Heather Phillipson, uma artista multimédia que trabalha com escultura, vídeo, instalação, composição musical e poesia (publicou cinco livros de poemas, vários deles premiados), foi nomeada para este restrito lote de finalistas pela exposição Rupture No 1: blowtorching the bitten peach – que Adrian Searle, crítico de arte do Guardian, descreve como “pós-industrial, pós-cataclismo, pós-tudo; com uma parte de Mad Max, uma parte de jogo de vídeo e uma parte de cenas removidas do romance A Estrada, de Cormac McCarthy, tudo refeito em cintilante Technicolor” –, e ainda pela obra The End, uma escultura que representa um gelado com uma mosca, uma cereja e um drone, e que foi colocada no famoso quarto plinto da Praça de Trafalgar, no centro de Londres, um local de exposição de arte pública cujas obras são escolhidas por uma comissão independente.

E, por último, Sin Wai Kin, artista e pessoa não-binária, natural de Toronto, deve a escolha à sua participação no British Art Show 9, uma colectiva itinerante que se realiza de cinco em cinco anos, e que em 2021-2022 reúne 230 artistas contemporâneos, num momento que, sublinha a organização da exposição, “trouxe para o centro da consciência pública as políticas de identidade e preocupações de justiça social, racial e ambiental”. A nomeação para o Turner resultou ainda da sua exposição a solo na galeria londrina Blindspot. Sin Wai Kin, diz o material de divulgação desta galeria, usa “a performance, a imagem em movimento e a escrita” para construir “ficções especulativas” que “interrompem os processos de desejo, identificação e objectificação”.

O prémio é anunciado em Dezembro, mas as obras das quatro artistas vão estar expostas na Tate Liverpool já a partir de 2o de Outubro, e ali permanecerão até 19 de Março de 2023. A vencedora receberá 25 mil libras (30 mil euros) e serão atribuídas 10 mil libras (12 mil euros) a cada uma das restantes três finalistas.

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