Rompamos com o silêncio

A resistência civil e política não violenta


1. Esta guerra é contra o clima. Não existe nenhuma informação pública sobre as emissões dos exércitos (mesmo quando não há guerra). Os gastos militares estão excluídos dos protocolos de Quioto e dos acordos de Paris. Não há documentação sobre as emissões do fabrico de armas nem das que se produzem nas manobras e manutenção dos exércitos e claro nenhuma sobre as guerras, onde se queima tudo, todo o combustível, seja em bombardeamentos seja em acções correntes. Temos, todavia, um dado: os EUA emitiram 1200 milhões de toneladas de gases efeito de estufa na guerras desde 2001 o equivalente a 257 millhões de automóveis/ano.

O mundo, segundo o SIPRI (Instituto para a Paz de Estocolmo), gastou mais 2 mil milhões de milhões (2.000.000.000) de dólares em armas e sem que uma única voz tenha rompido o tenebroso silêncio do politicamente correcto e da ditadura de alguns media dominantes, nem uma voz se ouviu a contestar o aumento de quase 100% das despesas militares, nos nossos países, para 2%. Vergonhoso.

Esta guerra é, nenhum dos nossos especialistas o diz, uma guerra climática, por combustíveis fósseis, quem o diz é Svitlana Krakovska, especialista climática ucraniana. Há muito que o sabíamos, mas em general é ignorado.

2. Esta guerra - pese os propagandistas desta tecnologia moribunda anunciarem o contrário - também é o desmascarar final da nuclear, civil e militar. As ameaças, ao arrepio dos próprios tratados nucleares internacionais da ditadura russa, e os estragos e radiações que já foram emitidas pela ocupação e destruição em locais de centros radiológicos mostram claramente que não há nenhum nuclear seguro, que os riscos são em qualquer caso imensos e que é, também, uma tecnologia que nos deixa nas mãos de Putin e dos seus aliados para o abastecimento de urânio, ora...

3. São igualmente os direitos humanos pisoteados em nome de ideias que ao longo da história têm conduzido às maiores vilezas, massacres, holocausto sobre qualquer das suas diversas formas, mas sempre em nome do ódio, do ódio ao outro, seja esse normalmente assumido como patriotismo ou nacionalismo, espaço vital, culto da raça, religião, ou até simplesmente da forma de expressão e da fala.

4. Têm sido pouco referidos esses elementos que são a tripeça que sustenta esta guerra, mais esta guerra, que se bem que tendo responsabilidades inequívocas de um dos lados, mesmo se compreendermos que há efeitos que induzem a esta, pois esta guerra e invasão imperial tendo tido um culpado entrou numa lógica suicidária. Não é com água que se combate o fogo. Os apelos permanentes a um escalar do conflito são totalmente contraproducentes. Só se acaba com a guerra lutando contra a guerra.

A oposição civil não violenta, a desobediência activa, o envolvimento pessoal no empenho contra a guerra deveria, ao contrário do que é estimulado pelos nossos (e doutros países, órgãos de comunicação social) ser tema-chave, para um processo de parar, parar já esta loucura, caminhar para um cessar-fogo, e a construção de novas relações que excluam o ódio e promovam a fraternidade entre os povos.

Para chegar a esse ponto há que iniciar o caminho, como quando Rosa Parks ocupou um lugar, como quando um indiano recolheu sal do mar, como quando uma florista colocou um cravo numa arma. Na Ucrânia houve uma experiência não violenta exemplar, como já tinha havido noutros países do leste da Europa. Recusar a guerra, dizer não à guerra, porque continuamos amigos da Terra.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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