Custou, mas está feito. Portugal vai ao Mundial 2022

Este era um jogo de “vida ou morte”, como metaforizou Fernando Santos, e Portugal, sem ser brilhante, sobreviveu e aproveitou bem as “ofertas” da Macedónia. Bruno Fernandes foi o homem dos golos.

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EPA/ESTELA SILVA

Saiu caro o bilhete para o Qatar. A selecção portuguesa teve de fazer horas extraordinárias, mas ainda chegou a tempo de garantir, nesta terça-feira, uma das últimas vagas europeias no Mundial 2022, ultrapassando o play-off frente à Macedónia do Norte.

O triunfo por 2-0, no Estádio do Dragão, garante que Portugal mantém um registo imaculado em qualificações para grandes competições neste século, já que desde o Euro 2000 não falha nenhuma prova.

Este era um jogo em que a crueldade do futebol poderia atraiçoar Portugal. Vencendo a frágil Macedónia, jogadores e treinador fariam apenas o que lhes competia, que o parco poder dos balcânicos não justificaria largos elogios. Falhando frente a esta equipa limitada, seriam vilões – mas não são.

Este sucesso não só garante um bom futuro para a selecção, com a desejada viagem ao Médio Oriente, como também Fernando Santos pode respirar de alívio: tem o seu emprego garantido, depois de ter prometido demitir-se caso falhasse o Mundial.

Para o Dragão, havia um jogo de “vida ou morte”, como metaforizou Fernando Santos, e Portugal sobreviveu, curiosamente, com recurso à via menos provável – as transições, pelouro teoricamente destinado à menos forte Macedónia.

Autocarro de matrícula macedónia

Antes do jogo, sem pudor em aventurar-se em análise futebolística, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse: “A Macedónia parece que é uma coisa, mas depois é outra.”

Mas, neste jogo, os balcânicos foram exactamente aquilo que parecem: uma equipa totalmente defensiva e desprovida de predicados técnicos ou sequer predisposição para atacar com frequência – e muito menos com engenho.

Como se diz em “futebolês”, a equipa da Macedónia levou ao Dragão um autêntico “autocarro” e estacionou-o em frente à sua baliza. E Portugal demorou muito a conseguir furar os pneus à gigantesca viatura ali montada.

O 4x3x3 português apareceu diferente do que tinha surgido frente à Turquia. A dinâmica e as permutas posicionais vistas com os turcos deram lugar, com os macedónios, a uma tremenda falta de mobilidade.

E não há forma mais eficaz de desmontar um bloco defensivo denso do que arrastar defensores. Não sendo um jogador capaz de fixar defesas pela presença na área, Ronaldo teria, então – até mais do que noutros jogos –, a importância de levar adversários consigo, abrindo espaços para Jota, Otávio e Bruno Fernandes.

Mas isso raramente aconteceu e o jogo lento de Portugal, misturado com essa falta de mobilidade a arrastar marcações, permitiu à Macedónia defender “de cadeirinha” durante bastante tempo.

Outra dinâmica táctica possível seria explorar mais os corredores, já que a Macedónia, até por resistir à tentação de colocar uma linha de cinco defesas, tinha a equipa bastante compacta na zona central, dando algum espaço nas alas – Cancelo aproveitou-o duas vezes em lances individuais, mas sem cruzamentos de qualidade.

É certo que houve uma bola colocada em Ronaldo em profundidade, para finalização imperfeita do capitão, e um cabeceamento de Jota num canto, mas Portugal era, globalmente, uma equipa parca em ideias.

Mas, como em qualquer equipa que só quer defender, um erro individual faz ruir todo o plano. Aos 32’, Stefan Ristovski esqueceu-se de que já não joga com Bruno Fernandes no Sporting e fez um passe de risco para a zona central do campo. Com a Macedónia desequilibrada pelo erro inesperado do lateral, o português combinou com Ronaldo e foi, mais à frente, buscar a assistência do capitão para finalizar.

Esperava-se que um erro português pudesse ser aproveitado para Macedónia marcar em transição? Talvez. Mas foi Portugal que aproveitou um erro e marcou em transição, possivelmente a última via que se esperava que fosse o caminho português para o golo.

A transição, novamente ela

A Macedónia tinha, para a segunda parte, um dilema: fazer pela vida e arriscar que Portugal “matasse” o jogo ou manter o bloco pouco audaz e arriscar que o resultado nunca viesse a mudar.

A opção escolhida foi delinear um ponto intermédio entre ambas. A equipa predispôs-se a ter mais bola – e com isso cometeu mais erros e deu mais espaço –, mas não o fez de forma “suicida”, tendo vários períodos de cautelas posicionais e pouco jogo ofensivo.

Portugal estava confortável em não ir avidamente atrás do 2-0, pela vantagem no marcador, mas também tinha estado nos dois jogos com Sérvia e deu-se mal com isso.

Desta vez houve, porém, resultado diferente. Portugal voltou a chegar ao golo num lance de contratransição, em que os balcânicos queriam aproveitar um erro de Cancelo – e balancearam-se bastante –, mas Pepe tinha planos diferentes.

O defesa interceptou a bola, lançou Portugal para o ataque e, em transição, Jota cruzou para o bis de Bruno Fernandes. E Portugal voltou a marcar numa transição, frente a uma equipa que, em tese, faria desse o seu pelouro ofensivo.

E depois? Depois foi só aguentar.

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