“Mais quatro anos de exílio” para os “azzurri

Pela quarta vez, o detentor do título europeu não estará no Mundial. Mancini não é visto como o principal culpado, mas a sua saída é muito provável.

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O desespero dos jogadores italianos após a derrota com o Macedónia do Norte Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

A Ferrari até tinha voltado a ganhar corridas na Fórmula 1, mas lá veio a selecção de futebol estragar tudo. A história repetiu-se em Palermo, a “squadra azzurra”, uma das mais tituladas selecções da história do futebol, falhou o apuramento para a fase final do Mundial pela segunda vez consecutiva. O “apocalipse” de 2017 voltou a acontecer em 2022 e repetiram-se as primeiras páginas apocalípticas dos jornais italianos. “Fora do mundo”, disse a Gazzetta dello Sport. “No inferno”, titulou o Corriere dello Sport. No Tuttosport, apenas uma palavra a toda a largura da página com um ponto de exclamação no final: “NOOOOOOOOO!”

“Mas o absurdo tem razão de ser”, escreve Alessandro Barbano, director-adjunto do Corriere dello Sport, sobre a pena de “mais quatro anos de exílio a que a Itália foi condenada. “Somos culpados de inadequação técnica e competitiva, mas, sobretudo, de egoísmo, superficialidade, risco”, acrescenta o jornalista italiano no seu editorial de primeira página, considerando que o futebol italiano atingiu “o fundo, o ponto mais baixo da sua história”. O jogo de Palermo, escreve ainda Barbano, não foi um “destino absurdo”, mas “uma fotografia realista”.

A opinião generalizada é de que este novo falhanço dos “azzurri” não se pode justificar apenas com a incapacidade de acertar na baliza da Macedónia do Norte durante 90 minutos – a Itália fez 32 remates, os macedónios remataram apenas seis vezes. E Roberto Mancini, o treinador do título europeu conquistado em 2021, não deve ser o culpado, nem deve sair, como outros fizeram após fracassos semelhantes. “Agora, não precisamos de mártires”, escreve Mario Sconcerti no Corriere della Sera. “Seria um sacrifício inútil. Se ele quer ir embora, que vá. Se alguém o quer mandar embora, que o mande. Mas o seu dever é com o povo, uma relação construída com dezenas de jogos sem perder. A sua Itália foi o único sucesso do nosso futebol em 12 anos. Não podemos estar sempre a recomeçar do zero”, argumenta Sconcerti.

"Problema grave"

Um campeão europeu falhar o Mundial seguinte não é nenhuma novidade. Antes desta Itália, já tinha acontecido em três ocasiões, com a Checoslováquia campeão em 1976 (falhou o Mundial de 1978), com a Dinamarca de 1992 (falhou o de 1994) e com a Grécia de 2004 (falhou o de 2006). Mas essas três selecções não têm a dimensão histórica dos “azzurri” no futebol mundial, uma dimensão conquistada com quatro títulos mundiais e dois europeus.

E este é um fracasso que acontece em paralelo com a perda de competitividade do “calcio” no futebol europeu – nenhuma equipa italiana ganha a Champions desde o Inter de José Mourinho em 2010 e, na presente temporada, não há qualquer representante da Série A nos quartos-de-final da competição. Arrigo Sacchi, antigo seleccionador italiano e treinador de um grande AC Milan dos anos 1980 e 1990, refere que o problema do futebol italiano é estrutural e é quase tão velho quanto ele – Sacchi tem 75 anos.

“O problema é grave. O futebol italiano sofre de um atraso cultural, não existem ideias inovadoras. Os outros países estão a evoluir e nós estamos parados há 60 anos. O treinador e os jogadores são os menos culpados. O problema é institucional”, disse Sacchi à Gazzetta delo Sport, falando do título europeu do ano passado como uma “maravilhosa excepção” a que todos têm de “estar gratos”.

Mudanças nos “azzurri” só se irão saber depois do inútil e indesejado por ambas as partes jogo entre Turquia e Itália da próxima terça-feira, ao mesmo tempo que Portugal e Macedónia do Norte lutam, no Dragão, por uma vaga no Mundial do Qatar. Se Mancini quiser sair ou for forçado a isso, há muitos candidatos à sucessão, desde Fabio Cannavaro, Marcelo Lippi, ou Carlo Ancelotti, este último se o conseguirem arrancar do Real Madrid.

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