Comunidade ucraniana contesta pinturas em Évora de apoio à invasão russa

A GNR diz estar a monitorizar a situação e o presidente da Câmara de Évora já foi contactado pela Associação dos Ucranianos em Portugal, que admite vir a fazer queixa às autoridades.

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Também pela Rússia têm surgido pinturas de apoio à invasão da Ucrânia com o símbolo "Z" EPA/Liselotte Sabroe

Pinturas de apoio à invasão russa da Ucrânia, alegadamente criadas por um cidadão português numa parede de uma quinta no concelho de Évora, estão a ser contestadas pela comunidade ucraniana em Portugal.

O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, disse esta segunda-feira à agência Lusa ter tido conhecimento da existência destas pinturas no domingo, através do representante da associação em Évora.

As pinturas incluem uma bandeira da Rússia, um desenho com o presidente russo Vladimir Putin e uma placa com palavras em russo, descreveu o mesmo representante ucraniano.

Segundo Pavlo Sadokha, na placa estão escritas frases como “nós somos Rússia” e “somos juntos contra nazis e veneno”, além de estar desenhada a letra “Z”, que também aparece pintada em viaturas e tanques dos militares russos empenhados na guerra na Ucrânia.

“Não faz sentido [o que está escrito], mas o mais importante é a letra “Z"”, que, para os ucranianos, “está relacionada com mortes e destruição e com esta invasão”, argumentou.

O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal sublinhou: “Não é a bandeira ou a imagem de Putin que nos irrita. É a letra “Z”, que se tornou o símbolo da agressão e genocídio contra ucranianos”.

Ainda assim, Pavlo Sadokha apelou para que sejam evitadas respostas agressivas ao que considera serem provocações: “Apelo a todos para que não tenham nenhuma reacção agressiva” e para que comuniquem as situações de “provocação” às autoridades policiais.

Também em declarações à Lusa, o representante desta associação em Évora, Stepan Byk, indicou que as pinturas surgiram numa parede de uma quinta situada na freguesia de Nossa Senhora da Graça do Divor, naquele concelho alentejano.

“É um português que vive ali e foi ele que escreveu que é contra nazis e apoia a guerra na Ucrânia. É uma pessoa longe da realidade e não sabe todos os pormenores sobre a guerra ou, então, sabe e quer que os russos matem ucranianos”, alegou.

Contactada pela Lusa, fonte do Comando Territorial de Évora da GNR disse que a Guarda tem conhecimento e “está a monitorizar a situação”.

A GNR confirmou que a quinta é de “um português, que fala russo e terá algum tipo de ligação aos ideais russos”, mas esclareceu que este local não acolhe qualquer refugiado ucraniano.

O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal defendeu que “a polícia tem que investigar o caso” e considerou que as pinturas podem incitar à “discriminação, ao ódio ou à violência contra pessoas”.

A propósito desta situação, a associação já teve “uma reacção política”, no domingo, através da rede social Facebook, ao divulgar uma carta aberta ao presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá (CDU), e admitiu poder vir a apresentar queixa às autoridades policiais. “Vou falar com o advogado sobre uma possível queixa à polícia”, frisou.

Na carta publicada no Facebook, a associação, além de outros argumentos, considerou que os desenhos podem configurar um crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência contra pessoas.

“O autor destes desenhos e textos a favor de Putin provoca uma grande dor moral aos refugiados ucranianos e à comunidade ucraniana” residente no distrito de Évora, pode ainda ler-se.

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