Presidente finlandês avisa para risco de escalada em caso de adesão à NATO

A invasão russa da Ucrânia fez aumentar para níveis históricos o apoio dos finlandeses à entrada do país na NATO.

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Manifestação de apoio à Ucrânia em Helsínquia este sábado LEHTIKUVA / Reuters

Uma eventual adesão da Finlândia à NATO poderia aumentar o risco de uma subida da tensão na Europa, admitiu o Presidente do país, Sauli Niinisto, numa entrevista ao Financial Times. No entanto, o chefe de Estado não exclui à partida nenhuma modalidade que permita reforçar a segurança do país escandinavo que partilha uma fronteira de mais de mil quilómetros com a Rússia.

O debate sobre o estatuto de neutralidade adoptado pela Finlândia desde o fim da II Guerra Mundial foi relançado com maior intensidade após a invasão russa da Ucrânia. Apesar de pertencer à União Europeia e manter laços próximos com a NATO, muitos finlandeses receiam que nada disso seja suficiente para travar uma eventual ofensiva lançada por Moscovo nos mesmos moldes da que está em curso na Ucrânia.

Uma sondagem publicada na semana passada mostrava que, pela primeira vez em várias décadas, a maioria dos finlandeses apoia a adesão do país à Aliança Atlântica, com a oposição a essa possibilidade manifestada apenas por 16% dos inquiridos. Se o Governo e o Presidente dessem respaldo a uma entrada da Finlândia da NATO, poderiam contar com o apoio de 74% do eleitorado, de acordo com a mesma sondagem.

Ainda assim, Niinisto prefere manter a cautela face ao rumo futuro do enquadramento da Finlândia na nova arquitectura de segurança europeia. “O ponto de partida é de que estamos a olhar para alternativas que não sejam continuar como estamos”, afirmou Niinisto ao FT. As opções dividem-se entre a entrada na NATO ou um reforço da cooperação militar com a Suécia – que também não pertence à Aliança Atlântica – e com os EUA.

“Compreendo muito bem que, por exemplo, com a [adesão à] NATO pode parecer que as nossas preocupações terminaram, mas todas as alternativas incluem riscos que devemos reconhecer. Neste momento, o maior risco é uma escalada da situação na Europa”, afirmou o Presidente finlandês.

O Kremlin não tem escondido a sua oposição às iniciativas de aproximação da Finlândia e da Suécia à NATO. Já depois do início da invasão russa da Ucrânia, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, afirmou que a adesão dos dois países escandinavos à NATO iria merecer “uma resposta da Rússia”.

O Governo finlandês está a elaborar um relatório sobre as alternativas em matéria de segurança para o futuro do país, que inclui a potencial adesão à NATO, de acordo com o FT. Cabe depois ao Parlamento decidir se leva a votação um pedido de integração na Aliança Atlântica.

Durante a II Guerra Mundial, a União Soviética invadiu a Finlândia, num conflito paralelo que ficou conhecido como a Guerra de Inverno. No final, a Finlândia teve de fazer cedências territoriais e assinou um tratado com Moscovo em que era garantida a sua neutralidade geopolítica. Esse estatuto prevaleceu durante toda a Guerra Fria e sobreviveu ao colapso da União Soviética.

No entanto, a Finlândia manteve uma aposta forte na sua segurança, deixando em vigor, por exemplo, o serviço militar obrigatório, o que lhe permite dispor de cerca de 280 mil reservistas preparados para serem chamados. Ao mesmo tempo, nos últimos anos, tem reforçado os laços com a NATO, garantindo direito de passagem às forças militares da aliança em cenários de crise ou através da partilha de informações.

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