Putin “deixou claro que guerra é uma opção que está na mesa”

Analistas reagem às palavras do Presidente russo, que lançou uma base retórica para a guerra, mas não a declarou. “Ainda não sabemos onde é que isto vai dar.”

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O Presidente russo, Vladimir Putin. "Vi muitos discursos de Putin, e acho que nunca vi um como este”, comentou Sam Green, professor de política do King’s College de Londres EPA/ALEKSEY NIKOLSKYI/SPUTNIK/KREMLIN POOL / POOL

O Presidente russo, Vladimir Putin, fez um discurso para convencer os russos dos motivos para uma guerra à Ucrânia, sem a declarar, disseram vários analistas que comentaram as palavras de Putin na rede social Twitter. E se há algumas certezas de que o reconhecimento da independência das duas regiões separatistas que acabou de declarar irá levar a presença militar oficial russa no local, o que se poderá seguir já é mais imprevisível.

“O discurso de Donbass de Putin é incrivelmente negro e agressivo. Vi muitos discursos de Putin, e acho que nunca vi um como este”, comentou Sam Green, professor de política do King’s College de Londres e co-autor do livro Putin vs the People.

“Este discurso não tem qualquer parte da euforia, qualquer parte das notas de levantar o moral, do discurso da Crimeia em 2014”, sentencia o especialista. “Ou seja, este é um discurso feito não para que as pessoas fiquem contentes, mas fazer com que fiquem zangadas.”

“Claro que esperava que Putin fosse agressivo”, comentou pelo seu lado Max Seddon, correspondente do Financial Times em Moscovo. “Mas isto foi assustador”, continuou. “O discurso deixou claro que a guerra é uma opção que está na mesa.”

O analista do German Marschal Fund e director para a Europa Central e de Leste do German Marshall Fund Joerg Forbrig comentou também que “o discurso de Putin à nação russa é, na verdade, uma longa declaração de guerra à Ucrânia”.

“Isto é só o começo”, comentava Max Seddon no Twitter. O que se pode seguir? Por um lado, o reconhecimento das duas repúblicas separatistas tem como resultado claro a inserção formal de tropas russas nos dois locais, e uma provável tentativa de expandir as fronteiras, diz Green. “As incógnitas são: quão longe vão tentar ir além da linha de controlo actual? Irá a Ucrânia lutar ao longo dessa linha, ou a alguma distância? Irá Biden forçar o pacote total de sanções de imediato?”

“Putin tem todas as opções em aberto”; comentou pelo seu lado Carlo Masala, professor de política internacional na Universidade Militar de Munique. “Pode escalar e desescalar, como quiser. Como [os acordos de Minsk] morreram, o papel de França e Alemanha como mediadores diminui.”

“Putin lançou as bases retóricas para a guerra, mas não a declarou. Lançou as bases para uma presença militar formal nas duas repúblicas autoproclamadas de Donetsk e de Lugansk, mas não definiu as fronteiras. A ambiguidade estratégica continua. Ainda não sabemos para onde é que isto vai dar, e essa é a questão”, concluiu Greene.

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