Poder absoluto
Em democracia, o único cordão sanitário aceitável é em torno de todos aqueles que se sentem no direito e têm o poder de “desvalorizar” o voto.
O senhor primeiro-ministro e os partidos da esquerda revolucionária propõem-se criar um “cordão sanitário” à volta do Chega.
No fundo agem como se houvesse portugueses de 1.ª ou de 2.ª . Votos de 1.ª e de 2.ª.
Um absurdo para quem se diz democrata.
Agem, como se a “tolerância” e o “voto” não fossem valores centrais nos regimes democráticos.
A posição dos partidos da esquerda revolucionária não surpreende. Limitam-se a agir de acordo com a sua matriz histórica de intolerância. Ferve-lhe nas veias o sangue estalinista e maoista, que em nome de um ideário totalitário, se cobriu de atrocidades.
Já o primeiro-ministro age por mero oportunismo! Por puro tacticismo.
O primeiro-ministro faz bullying sobre os eleitores moderados, agigantando espantalhos porque sabe:
- que assim dificulta a recomposição do espaço político moderado da direita;
- que cimenta o espaço político de esquerda que o apoia.
Em boa verdade, o primeiro-ministro sabe que um voto no Chega é um voto útil ao PS. As últimas eleições confirmam-no.
Quem votou Chega, com vontade de mudar de Governo, foi premiado com a maioria absoluta do Partido Socialista. Acabou ingenuamente a reforçar e consolidar o poder do primeiro-ministro.
Neste ambiente de “poder absoluto” devemo-nos interrogar:
- se é legitimo que o primeiro-ministro oriente a sua ação política por critérios de mero oportunismo, sacrificando sem qualquer pudor o valor do “voto";
- se é aceitável que o primeiro-ministro se comporte como líder de uma fação ou de determinada área política, em vez, de se comportar como o chefe do Governo de todos os portugueses.
O desprezo que o primeiro-ministro revela pelo “voto”, valorizando os que são por si e penalizando os que não o apoiam, é revelador. É um tique de autoritarismo e de arrogância.
A somar a isto, a ideia de cordão sanitário em torno do “valor do voto”, premiando os apoiantes e os que nos aceitam de forma branda, é uma ideia perigosa e inaceitável num Estado de Direito Democrático.
Vinda de um primeiro-ministro com “poder absoluto” merece redobrada atenção, o mais vivo repúdio e a mais ruidosa contestação.
Em democracia, o único cordão sanitário aceitável é em torno de todos aqueles que se sentem no direito e têm o poder de “desvalorizar” o voto.
Os portugueses que se cuidem. Agora é o Chega porque dá jeito. Amanhã pode ser qualquer um de nós!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico