Lei da Nacionalidade: querem mesmo falar de números?

Comunidade judaica portuguesa cresceu em cerca de 57 mil pessoas, descendentes de judeus sefarditas, entre 2015 e 2021. Há cerca de outros 80 mil em lista de espera

Tem sido notícia uma série de números que envolvem a Lei da Nacionalidade e a crescente comunidade judaica em Portugal, uma comunidade de sefarditas, descendentes de judeus expulsos do país há centenas de anos, naquela que hoje é tida como uma injustiça enorme, que tem vindo a ser reparada, mesmo que com muito atraso.

A meu ver, há números e factos bem mais interessantes para discutir. Desde logo, os números apontados há dias pelo Ministério da Justiça: a comunidade judaica portuguesa cresceu em cerca de 57 mil pessoas, descendentes de judeus sefarditas, entre 2015 e 2021. Há cerca de outros 80 mil em lista de espera. Estes números são referentes a um conjunto de anos, o que, na verdade, se traduz em cerca de 10 mil pessoas por ano. Colocando os números nesta perspetiva, estes não são assim tão elevados, tendo em conta sobretudo a quantidade de judeus sefarditas com ligações a Portugal e que ainda não têm essa ligação legitimada.

A motivação para a chegada dos judeus sefarditas não se prende com o investimento. Trata-se de algo muito maior do que isso. Há uma clara ligação emocional a um país que sentem ser seu, como foi dos seus antepassados, mas há também uma ligação cultural e à comunidade onde se inserem.

O investimento e oportunidades financeiras acabam por ser resultados e, de facto, é inegável o contributo que esta comunidade já tem trazido para a economia portuguesa. A comunidade tem assumido um papel de relevo em áreas como tecnologia, imobiliário, turismo e serviços e calcula-se que o investimento nos últimos sete anos ande à volta de seis mil milhões de euros e tenha resultado na criação de 10 mil empregos.

Muitas vezes, quando se associa dinheiro a uma comunidade judaica e se tentam lançar suspeitas, há uma motivação antissemita. Aliás, porque há muitos outros casos relacionados, por exemplo, com “vistos gold”, que não têm praticamente destaque. Portugal tem mostrado, do norte ao sul, ser um país tolerante e respeitoso com aqueles que chegam com boas intenções. Espero que assim continue.

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