A minha avó Antónia tinha medo de tudo o que se relacionava com meteorologia. Acho que nunca ninguém lhe conseguiu tirar da cabeça que os fenómenos meteorológicos eram a forma preferida de Deus castigar os homens. “Vê lá como é que a humanidade acabou na primeira vez”, dizia-me muito séria, referindo-se ao dilúvio que destruiu tudo menos Noé e a sua arca repleta de animais. Durante estas conversas eu costumava encolher os ombros e sorrir. Até porque poucas causas eram tão perdidas de início como discutir religião com a minha avó. Mas confesso que me confortava olhar para ela à braseira, com o cabelo enorme preso num carrapito cinzento, a rezar uma ladainha a Santa Bárbara sempre que soava um trovão.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.