Autotestes podem ter reagente perigoso para a saúde. INEM já recebeu nove chamadas

INEM ressalva que o contacto foi muito reduzido e que a maioria dos casos foram assintomáticos. Nenhuma das situações exigiu observação em meio hospitalar, tendo sido resolvidas em casa com as indicações do Centro de Informação Antivenenos.

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Um dos autotestes vendido em Portugal tem o reagente perigoso MANUEL DE ALMEIDA

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) recebeu, até ao momento, nove chamadas relativas ao contacto com um reagente presente em alguns kits de autotestes rápidos para diagnósticos do SARS-CoV-2, a azida de sódio. O componente é considerado, pelos especialistas, perigoso para adultos e crianças e os centros de controlo de venenos internacionais têm recebido relatos de exposições acidentais à substância. Em Portugal, a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) diz ainda não ter recebido qualquer relato sobre acidentes com o reagente em causa.

A azida de sódio está presente nos frascos onde é inserida a zaragota, depois da recolha da amostra nasal e, por isso, se a utilização for feita correctamente não chega a entrar em contacto com o corpo humano. Contudo, já se verificaram percalços no país e o primeiro registo de chamadas para o INEM, ao qual o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) está ligado, a dar conta de contactos com essa substância data de Junho de 2021. O último, até agora, é do dia 3 deste mês.

A informação é confirmada ao PÚBLICO pelo gabinete de comunicação do INEM, que especifica: “Na totalidade dos casos o contacto foi muito reduzido, na maioria houve contacto com a mucosa nasal.” Ainda de acordo com a resposta do INEM, “além de em dois casos ser referido ligeiro ardor nasal, todos os outros estavam assintomáticos”. Nenhum dos casos exigiu observação em meio hospitalar e foram resolvidos “em casa com as indicações do CIAV”.

Já o Infarmed, também numa resposta escrita enviada ao PÚBLICO, informa que não recebeu “qualquer comunicação relativa, especificamente, a problemas ou acidentes relacionados com o contacto com as soluções que são fornecidas nos autotestes”.

Contacto só com a zaragatoa

A autoridade do medicamento recorda que durante a utilização dos autotestes “a única componente que deverá entrar em contacto com o corpo humano é a zaragatoa estéril” e acrescenta que, uma vez seguidas as instruções de utilização, “o utilizador não entra em contacto directo com a referida solução, que não se destina a ser utilizada no corpo humano”. Além disso, o Infarmed ressalva que a azida de sódio é um componente que se encontra presente em alguns autotestes “em baixas concentrações”.

De acordo com um artigo publicado no The American Journal of Emergency Medicine, quando em contacto com adultos, pequenas quantidades podem rapidamente causar pressão arterial perigosamente baixa, tonturas, desmaios ou mesmo ataques cardíacos ou derrames. Já as crianças “podem experienciar eventos adversos graves após exposições orais exploratórias a quantidades mínimas das soluções reagentes devido ao tamanho corporal mais reduzido”, revela o estudo.

O artigo, assinado por Kelly Johnson-Arbor, co-directora do National Capital Poison Center de Washington, D.C. (organismo correspondente ao CIAV em Portugal), refere que os kits de testes fabricados pela Abbott (BinaxNOW™), Beckton, Dickinson and Company (BD Veritor™), Celltrion (Celltrion DiaTrust™) e ACON Laboratories (Flowflex™) contêm este componente.

Um teste à venda tem o reagente

O PÚBLICO questionou o Infarmed sobre quais os testes que estão a ser comercializados em Portugal que contêm azida de sódio, mas não obteve resposta a essa questão. Através da consulta da lista de autotestes aprovados em Portugal, disponível no site da autoridade nacional do medicamento, foi possível perceber que pelo menos o Flowflex é vendido no país.

Ao PÚBLICO o Infarmed recorda que, “adicionalmente, é requisito legal que na informação cedida pelo fabricante (na rotulagem e/ou instruções de utilização) constem condições especiais de manuseamento, instruções particulares de utilização; advertências e/ou precauções adequadas a adoptar, se aplicável”.

“Assim, as instruções de utilização referem quais as precauções e condições de utilização, incluindo, por exemplo, avisos sobre o contacto acidental com pele e olhos, entre outros contactos, [e] que os referidos dispositivos não se destinam a ser manuseados por crianças”, ressalva.

A agência de notícias Reuters noticiou a presença deste fluido em alguns autotestes na semana passada, dando conta de que as linhas directas de controlo de venenos têm recebido relatos de exposições acidentais ao reagente. “Algumas pessoas engoliram a solução, outras derramaram-na sobre a pele e outras puseram-na nos olhos”, confundindo o frasco com colírio, disse a investigadora Johnson-Arbor citada pela agência.

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