Autotestes: para que servem e como podem ser feitos em casa?

Os autotestes rápidos para diagnósticos do SARS-CoV-2 vão fazer parte da estratégia do Governo, mas ainda falta definir alguns pormenores importantes desta medida.

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REUTERS/Wolfgang Rattay

Na passada sexta-feira foi publicada a portaria que estabelece um regime excepcional e temporário para a realização em autoteste de testes rápidos de antigénio, destinados, pelos seus fabricantes, a serem realizados em amostras da área nasal anterior interna.​ Ao que tudo indica, a venda destes dispositivos será possível em farmácias e parafarmácias e sem necessidade de receita médica. Até agora, ainda não foi publicada a circular que vai definir os critérios de inclusão deste regime excepcional.

O que são testes rápidos de antigénio?
Os testes rápidos de antigénio permitem detectar proteínas específicas (antigénios) na superfície das partículas do SARS-CoV-2. Estes “testes rápidos de antigénios” não amplificam o que está na amostra como os testes moleculares (PCR) e, por isso, só detectam o vírus quando este atinge um nível elevado no corpo de uma pessoa. O vírus atinge geralmente estes níveis por volta da altura em que os sintomas começam, quando as pessoas estão no seu nível mais contagioso.

Como podem ser realizados em casa?
A maioria dos testes rápidos que pode ser usada em casa requer uma amostra recolhida com uma zaragatoa na área nasal anterior interna. O correcto procedimento para a realização destes testes tem obrigatoriamente de estar descrito de forma clara e simples no folheto da embalagem do teste. Há também testes rápidos que usam uma amostra da saliva.

O que vem nas embalagens destes testes e como funcionam?
O kit de teste comercializado, por exemplo, na Alemanha inclui uma zaragatoa, um frasco de “solução tampão” estéril, e uma tira de teste. A zaragatoa é utilizada para recolher uma amostra da membrana mucosa do nariz (inserindo-a alguns centímetros numa das narinas e “rodando” em torno dela). Estes testes rápidos que são comercializados para fazer em casa apenas exigem que uma pequena parte da zaragatoa (entre 1,5 a dois centímetros) seja inserida no nariz. Depois será necessário rodar a zaragatoa algumas vezes dentro da fossa nasal e durante alguns segundos. A amostra é então diluída com a solução líquida, e algumas gotas são pingadas na tira de teste.

Como se vê o resultado e quanto tempo demora?
Se a amostra contiver quantidades suficientes do antigénio, liga-se a anticorpos específicos na solução e utiliza pigmentos para criar uma linha fina na janela de visualização da tira de teste – semelhante a um teste de gravidez. O resultado está normalmente disponível dentro de 15 a 20 minutos.

Que testes rápidos foram autorizados agora em Portugal para venda em farmácias e parafarmácias?
Os autotestes rápidos para diagnósticos do SARS-CoV-2 vão fazer parte da estratégia do Governo na sequência da publicação, na passada sexta-feira, de uma portaria que autoriza a venda destes dispositivos em farmácias e parafarmácias, assim como a sua disponibilização às unidades do sistema de saúde. Trata-se de um regime excepcional que permitirá que testes rápidos de antigénio, “realizados em amostras da área nasal anterior interna”, já à venda no mercado para uso profissional possam ser adaptados para serem usados por qualquer pessoa. Ao que tudo indica não será preciso qualquer receita médica.

Quando é que será possível comprar estes testes?
Após a publicação da portaria na passada sexta-feira o Infarmed, a Direcção-Geral da Saúde e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) têm cinco dias para estabelecer os critérios que irão definir que testes entram neste regime excepcional. Assim, ainda há vários pormenores que não foram ainda esclarecidos, como o custo destes testes, os locais de venda, e outros critérios.

Quanto podem custar?
Na Alemanha, por exemplo, os autotestes são vendidos mesmo em cadeias de supermercados, com preços entre os 22 e 25 euros por embalagem com cinco testes.

Qual é a fiabilidade?
Como apenas detecta elevadas cargas virais, estes testes podem dar resultados que são falsos negativos na fase inicial da infecção ou se ocorrer alguma falha na colheita da amostra. No entanto, é muito pouco provável que surja um resultado falso positivo. Estes testes detectam com precisão cargas virais elevadas, que estão associadas ao período mais contagioso da doença.

O que pode correr mal?
Os erros mais comuns podem incluir a recolha de amostras do local errado (demasiado baixo na cavidade nasal), a aplicação de muito poucas gotas do líquido, ou a leitura incorrecta do resultado.

O que significa um resultado negativo?
Um resultado negativo significa que existe uma probabilidade muito elevada de que a pessoa não seja actualmente contagiosa. No entanto, não significa que a pessoa não esteja infectada – e que não possa continuar a infectar outras no dia seguinte. É importante pensar nestes testes rápidos como um resultado instantâneo. Ou seja, mesmo com um resultado negativo continua a ser imprescindível continuar a cumprir todas as regras de distância e higiene.

O que fazer com um resultado positivo?
O teste estará acompanhado de um folheto com as respostas claras (e eventualmente com contactos directos) a estas questões. No entanto, é seguro dizer que se o resultado for positivo, deverá contactar imediatamente o seu médico ou o departamento de saúde local para organizar um teste PCR, e auto-isolar-se até que o seu teste possa ser realizado.

Estes autotestes são importantes para o controlo da pandemia?
O acesso fácil a testes rápidos e baratos pode ser uma importante ajuda para controlar a pandemia identificando casos (sintomáticos ou assintomáticos) de pessoas com cargas virais elevadas que podem infectar outras. Os testes rápidos podem ser particularmente adequados para o rastreio assintomático em locais como prisões, aeroportos, escolas e universidades, bem como outros sectores de actividade com elevada exposição social (trabalhadores de fábricas ou construção civil).

Em Portugal, a inclusão dos autotestes é justificada, na portaria, pela importância de “intensificar os rastreios laboratoriais regulares para detecção precoce de casos de infecção como meio de controlo das cadeias de transmissão, designadamente no contexto da reabertura gradual e sustentada de determinados sectores de actividade, estabelecimentos e serviços”.

Até agora onde eram usados os testes rápidos?
Até agora a estratégia de testagem tem obedecido a critérios mais ou menos restritos. Em Portugal, a realização dos testes rápidos de antigénio requeria prescrição e acompanhamento médico e só em contexto da investigação de surtos, sob coordenação das autoridades de saúde, a prescrição individualizada poderia ser dispensada. Porém, já em Fevereiro, a ministra da Saúde anunciou a intenção de mudar estas regras para permitir um uso em massa dos testes (nomeadamente em escolas), sem receita médica e abandonando o critério de prescrever testes apenas a contactos de alto risco.

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