Árvores a abater em Ovar estão próximo do fim de vida, garante o ICNF

Em reacção às várias acções de protesto que têm surgido no município, autarquia e Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta vieram a terreiro explicar o procedimento, afastando qualquer cenário de “especulação imobiliária”.

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tiago lopes

Numa altura em que não pára de crescer o número de signatários da petição “Salvem o Perímetro Florestal das Dunas de Ovar” – na tarde desta quarta-feira eram já mais de 17.400 –, a Câmara Municipal de Ovar veio a público explicar o procedimento que irá levar ao abate de 247 hectares de pinheiros-bravos, previsto no Plano de Gestão Florestal do Perímetro Florestal das Dunas de Ovar. E fez-se “acompanhar” de um dirigente do Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF) para asseverar que o corte de árvores assenta em critérios técnico-científicos e visa permitir a “regeneração natural” da mancha florestal. Da parte de Salvador Malheiro, presidente da autarquia, ficou ainda a garantia de que “o que está previsto não é nenhum abate massivo com objectivos de especulação imobiliária”.

Os pinheiros bravos a abater, segundo garantiram os responsáveis da autarquia e do ICNF, têm idades entre os 61 e os 80 anos, próximas do fim do seu ciclo de vida. “Acima dos 70 anos, consideramos que [este tipo de árvore] já passou o fim do seu período de maior vigor. Estão mais sujeitas a pragas e doenças e a sua capacidade de resgate de carbono fica como se fosse um balde já cheio”, explicou Nuno Sequeira, vogal do ICNF, convidado a participar na conferência de imprensa que juntou, também, os presidentes das juntas de freguesia abrangidas por aquele plano.

“Não fazer nada neste pinhal não iria resultar”, argumentou, ainda, aquele responsável, depois de notar que a maioria do arvoredo do Perímetro Florestal das Dunas de Ovar possui a mesma idade, num estado de transição entre as fases de maturidade e o fim do ciclo de vida. Com “cortes faseados no tempo”, vão-se criando condições para ter “um arvoredo com diferentes classes de idades”, com “mais resistência a pragas e também maior biodiversidade”, explicou Nuno Sequeira. Se nada fosse feito, esta mancha florestal poderia perder a “maioria das árvores por declínio biológico ou por redução da capacidade de competição com as espécies invasoras concorrentes”.

Intervenção diferente terão as parcelas de terreno com maior proximidade ao mar, dada a importância das árvores no combate à erosão costeira. “Serão excluídas do corte de pinheiro bravo adulto”, vincou o presidente da autarquia ovarense. “As árvores lá também envelhecem, também têm o fim do ciclo de vida, mas as intervenções previstas para essa área são cirúrgicas, à estrita medida das necessidades”, acrescentou, por seu turno, o vogal do ICNF.

Nas áreas de abate, a reflorestação será feita, segundo foi ainda explicado, de forma espontânea. “Ovar faz parte do catálogo nacional para recolha de sementes”, razão pela qual não faria sentido “importar árvores”, ignorando esta “capacidade de adaptação”, enquadrou o responsável pelo ICNF. Foi o que aconteceu numa parcela da área de Cortegaça, em 2012, e onde, de acordo com o presidente da junta de freguesia, os pinheiros já atingem, neste momento, “entre 2,5 a 3 metros de altura”. Ainda assim, é preciso acompanhar o processo, nomeadamente no que concerne ao combate às invasoras, reconhece Nuno Sequeira, anunciando que está já em fase de contratação uma intervenção em 1100 hectares, num investimento na ordem de um milhão de euros.

Plano não se esgota no abate

O presidente da Câmara de Ovar disse depositar toda a confiança no ICNF, “órgão que mais sabe de floresta em Portugal”, para gerir este “pulmão verde” do município – são 2584 hectares, 17% da área total do concelho). “Essa foi a razão pela qual, em 2016, concordámos com o plano, plano esse que também teve a concordância das juntas de freguesia, parecer favorável da CCDRC [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro] e foi submetido a discussão pública”, recordou.

Um documento que, segundo evidenciou Salvador Malheiro, prevê ainda acções ao nível das “medidas preventivas contra incêndios”, “manutenção da rede viária”, “preservação da biodiversidade” e “plantação de pinheiro manso e sobreiro”, além do combate às invasoras.

Movimento 2030 não desiste

Henrique Araújo, presidente do Movimento 2030, autores da petição pública e de uma participação recente ao Ministério Público, diz lamentar o facto de o líder da autarquia “continuar a ignorar a posição de mais de 17.000 pessoas, não se opondo ao plano”. Em declarações ao PÚBLICO, Henrique Araújo garantiu que o movimento não irá desistir. A próxima acção passará por pedir uma audiência ao ministro do Ambiente.

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