Vai ser possível voltar a parar no Lima 5, que vai reabrir com nova gerência

A Santa Casa da Misericórdia, proprietária do espaço, já fechou contrato com privado interessado em explorar o café e as galerias fechadas há mais de cinco anos. As obras arrancarão este ano.

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Tiago Lopes
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“Sés um gaijatênto, já topaste a minha lata: põe-ta pau comigo, que só armo zaragata. Eu só paro lá no Lima 5: soue um meu de grabatinha e brinco”, são as palavras que se lêem, tal e qual como estão escritas, no encarte do single Lima 5, de 1980, da banda portuense Trabalhadores do Comércio, que imortalizou numa música este café mítico situado na intercepção da Rua da Constituição com a da Rua da Alegria, onde paravam algumas personagens da cidade.

Mas, já há mais de cinco anos que ninguém pára lá no Lima 5 nem nas suas galerias. Desde que a entidade que geria o espaço faliu e os negócios que lá existiam encerraram mantêm-se desocupados e à espera de algum investidor que lhes dê uma nova vida. Ao PÚBLICO, a Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), proprietária do espaço, diz que esse desejo está perto de ser concretizado. O contrato já está formalizado com um privado e em breve as obras de exterior avançarão para que ali nasça uma praça de alimentação com espaços comerciais de pronto-a-vestir e esplanadas.

“Já há projecto e já está a andar”, adianta o provedor da SCMP António Tavares. Ainda não é visível no exterior qualquer diferença em relação às construções que foram projectadas ainda antes do 25 de Abril de 1974 - curiosamente, foi no dia da revolução que a escritura do Lima 5 foi celebrada. Mas no interior, adianta, já estão a ser “melhoradas” as caves.

O contrato de exploração do café e das galerias foi assinado com o grupo que é dono do Hotel Jaguar, situado no outro lado da rua. Só daqui a uns meses é que diz poder adiantar-se mais sobre o projecto, mas o que está previsto é criar-se uma “complementaridade com o próprio hotel”, ainda que o projecto viva por si só. Aguarda-se neste momento pelas autorizações camarárias para alterações que serão feitas no exterior.

Para já, pode levantar-se pelo menos a ponta do véu. “Vai nascer ali uma praça de alimentação e uma praça comercial. As lojas terão respostas de pronto-a-vestir e existirão restaurantes, ainda não sei de que tipo”, adianta. Haverá uma zona de esplanadas e “áreas verdes”. Ao todo, serão sete espaços comerciais, incluindo o café. Ainda que nada esteja definido nessa matéria, o nome Lima 5 poderá ser usado pelo privado.

Quando as galerias foram inauguradas as lojas estavam ocupadas por restaurante, charcutaria, frutaria, snack-bar e confeitaria. Na altura, existiam apenas cinco espaços comerciais. De certa forma, essa circunstância acaba por dar origem ao nome das galerias. Inicialmente eram cinco sócios. Cada um deles geria um dos negócios. Já o conjunto edificado tinha sido construído em terrenos da antiga quinta do Lima, onde esteve o Estádio do Lima, já demolido, que já foi casa do FC Porto nas décadas de 1940 e 1950, depois de ter ficado na história por ter sido o primeiro campo relvado nacional. Baptiza-se, por isso, aquele complexo comercial com o nome Lima 5.

Não é a primeira vez que se tenta devolver aquelas galerias à cidade. Depois de encerrarem, adianta António Tavares, a SCMP abriu um concurso e houve uma entidade que arrendou os espaços, só que “nunca os ocupou”. E, por isso, definiu-se que o melhor seria dar a oportunidade a outro investidor. Entretanto, com o início da pandemia, o processo atrasou. “Ficamos dependentes dos tribunais porque os despejos ficaram suspensos. Em Setembro do ano passado conseguimos os equipamentos de volta e abrimos ao mercado. Esta foi a melhor proposta que tivemos”, explica.

Reabilitação urbana das imediações

A recuperação das galerias acontecerá durante este ano, ao mesmo tempo que avança a reabilitação urbana daquela área. O Lima 5 está inserido no parque habitacional Luso-Lima, propriedade da SCMP, com projecto de autoria do arquitecto José Carlos Loureiro, que nunca foi concluído. “O projecto inicial foi interrompido pelo 25 de Abril”, recorda. Brevemente, outras obras arrancarão junto às galerias. O terreno que era do antigo Estádio do Lima já tem um novo operador e vai nascer ali uma zona habitacional e uma nova rua para ligar a Rua do Lima à Rua de Gil Vicente”, adianta.

Em 1980 o single Lima 5 foi número 1 do top do programa de rádio Rock em Stock, da autoria do radialista Luís Filipe Barros, que mais tarde deu o lugar a Ana Bola. O retrato do café na década em que o rock explodiu em Portugal foi pintado pela banda que escrevia as suas letras em “portuense”. Não se sabe ainda qual será o futuro deste espaço mítico do Porto, mas é possível que brevemente se volte a lá poder parar. Há quarenta anos, aos olhos dos Trabalhadores do Comércio seria mais ou menos assim: “Eu num teinho muinto bom aspecto, sentado lá na mesa do meu café predileto; benho Cruz de lá cua baundeija, inquanto no balcom o patrom tira cerbeija.”

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