Duas cabras-monteses decapitadas no Gerês em pouco mais de um mês

Suspeita-se que o abate possa estar ligado a um negócio paralelo de venda das cabeças desta espécie protegida. GNR e ICNF estão a investigar.

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A segunda cabra-montesa foi encontrada em Janeiro, em Pitóes de Júnias ADRIANO MIRANDA / ARQUIVO

Duas cabras-monteses foram encontradas decapitadas no Gerês no último mês e meio. O caso está nas mãos da GNR, através do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), e do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que está no terreno a investigar a ocorrência. A comunidade local suspeita que o abate possa estar ligado à actividade paralela de venda de cabeças desta espécie protegida.

O abate de cabras-monteses está proibido em Portugal. Porém, em Espanha é permitido. Segundo o JN, este negócio ilícito pode render 5 mil euros por cabeça em território nacional. Do outro lado da fronteira, o valor pode subir até aos 7 mil euros.

A denúncia foi tornada pública nas redes sociais pelo Grupo Gerês, que conta com mais de 60 mil seguidores só no Facebook, depois de os corpos terem sido encontrados abatidos a tiro e sem cabeça. De acordo com o mesmo grupo, o abate dos dois animais ocorreu entre o fim de Dezembro e início de Janeiro, na zona raiana do Parque Nacional da Peneda-Gerês e do Parque Natural da Baixa Limia–Serra do Xurés.

O JN adianta ainda que mais tarde foi encontrada mais uma cabra da mesma espécie decapitada na mesma área geográfica mas, desta vez, morta por lobos. Neste caso, a cabeça foi cortada posteriormente.

Ao PÚBLICO a pessoa que alertou as autoridades sobre a segunda ocorrência diz ter encontrado o animal decapitado a cerca de cinco metros de um trilho não sinalizado em Pitões de Júnias, no concelho de Montalegre. A testemunha, que prefere manter o anonimato, adianta que esse percurso está longe dos circuitos mais procurados pelos adeptos do montanhismo e das caminhadas.

Quando se deparou com a cabra-montês, sem vida, tentou alertar as autoridades, mas sem sucesso por falta de rede no telemóvel. Só no dia seguinte de manhã, a 24 de Janeiro, é que conseguiu comunicar a ocorrência ao SEPNA. No mesmo dia, adianta, voltou ao mesmo sítio para dar conta ao ICNF da localização do animal que, segundo diz, tinha duas marcas de balas, parte do corpo com a pele esfolada e estava sem cabeça e sem o quadril do lado esquerdo. A mesma fonte recorda que, além destes dois casos, em 2016 já tinham ocorrido cenários semelhantes.

O SEPNA adianta estar a investigar o sucedido, mas diz ainda ser prematuro chegar a qualquer conclusão, tendo sido as diligências no terreno encetadas pelo ICNF que, diz a mesma secção da GNR, confirmou o abate de duas cabras-monteses. O caso será agora remetido para o Ministério Público. O ICNF foi contactado via telefone, mas ninguém atendeu.

Extinta das penedias do Gerês na última década do século XIX, a cabra-montês voltou timidamente em 1999 e, desde então, não tem parado de se reproduzir.

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