Museus holandeses abriram para cortes de cabelo, ioga e protestos contra restrições covid-19

Museus famosos, desde o Van Gogh em Amesterdão até ao Frans Hals em Haarlem, abriram as portas mesmo correndo o risco de serem multados. Nas salas de arte, houve aulas de tai chi, sessões de manicure e cortes de cabelo com uma das melhores orquestras sinfónicas europeias de fundo.

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Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW

Museus e salas de concertos nos Países Baixos reabriram, brevemente, para protestar contra o encerramento contínuo por causa das medidas de mitigação de covid-19. Em vez de arte, disponibilizaram sessões de ioga em frente a pinturas de mestres holandeses e cortes de cabelo ao som de uma orquestra sinfónica ao vivo.

O país aliviou o confinamento quase geral no fim-de-semana passado e permitiu a reabertura de ginásios, cabeleireiros e lojas. Mas os espaços culturais foram obrigados a permanecer fechados ao público pelo menos até 25 de Janeiro.

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REUTERS/Piroschka van de Wouw
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“Simplesmente não percebo porque é que as medidas ainda são tão rigorosas, ao ponto de impedir que eventos culturais aconteçam”, diz Alexandra Gerny, life coach que não conseguiu resistir a um convite para cortar o cabelo no palco enquanto a Orquestra Concertgebouw, de 130 anos, tocava. “Olhando para o resto da Europa, pergunto-me: porquê tanta cautela? Simplesmente não percebo. O prejuízo por ficar fechado é muito maior. Deixa-me tão irritada, o que não é assim tão fácil de fazer!”

Alexandra esteve entre o público de 50 pessoas no espectáculo Kapsalon Concertgebouw, realizado em violação das regras que proíbem concertos com público. Os convidados usaram máscaras e distanciaram-se fisicamente. Assistentes à entrada verificaram os certificados de vacinação contra a covid-19, de recuperação ou de teste negativo. Museus famosos em toda a Holanda, desde o Van Gogh em Amesterdão até ao Frans Hals em Haarlem, abriram as portas, mesmo correndo o risco de serem multados. Também foram oferecidas aos visitantes sessões de tai chi e serviços de manicure.

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Numa publicação no Twitter, Gunay Uslu, do ministério de cultura, manifestou compreensão pelo protesto, mas apelou à prudência. “O sector cultural está a chamar a atenção para a sua situação de uma forma criativa. Compreendo o grito de ajuda e que os artistas queiram mostrar todas as coisas bonitas que têm para nos oferecer. Mas a abertura da sociedade deve acontecer passo a passo. A cultura está no topo da agenda.”

O primeiro-ministro Mark Rutte anunciou na semana passada a reabertura de lojas e o recomeço dos desportos de grupo, apesar do número recorde de novos casos de infecção pelo novo coronavírus. Os Países Baixos têm registado acima dos 30 mil novos casos positivos por dia, mas os números de internamentos em hospitais têm vindo a diminuir de forma constante.

“É um protesto do sector cultural nos Países Baixos”, confirmou Dominik Winterling, o novo director-geral da sala de concertos Concertgebouw. “Queremos assegurar que os políticos de Haia percebam que queremos abrir novamente.” Após quase dois anos de incerteza, os intérpretes e músicos precisam de perspectivas, disse. “Simplesmente não sabemos o que se está a passar. Não podemos reabrir de um dia para o outro, pelo que precisamos de algum tempo para nos prepararmos. O que realmente queremos é tocar para um público, porque é para isso que existimos. Queremos inspirar as pessoas. É disso que se trata.”

Winterling disse que não podia garantir que todos iriam cortar o cabelo, mas assegurou que todos iriam participar num espectáculo que não esqueceriam.

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Gerny, a life coach, planeou pedir às cabeleireiras Marga Bon e Lysandro Cicilia um “pequeno corte”, enquanto desfrutava de um ensaio de uma sinfonia do compositor norte-americano Charles Ives.