Covid-19: pico da quinta vaga poderá já ter chegado ou ser atingido em breve. 400 mil pessoas isoladas no fim do mês

Bastonário da Ordem dos Médicos destaca que, no fim do mês, toda a população residente em Portugal já terá algum tipo de imunidade, seja ela natural ou devido à vacinação. Projecção indica que entre 180 e 250 mil potenciais eleitores vão estar em isolamento.

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Óscar Felgueiras diz que Portugal está agora “numa fase de planalto” Nuno Ferreira Santos

É previsível que o pico da quinta vaga de covid-19 em Portugal aconteça no decorrer desta semana, entre os dias 20 e 24 de Janeiro, podendo o número de infecções diário chegar aos 50 mil casos. Estas são as previsões de um relatório da Ordem dos Médicos (OM) e do Instituto Superior Técnico (IST). Mas Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é da opinião de que o pico poderá já ter tido lugar. Num ponto as duas projecções encontram-se: no final do mês, dia 30, deverão estar 400 mil pessoas em isolamento.

“O número previsto de potenciais eleitores em isolamento, excluindo já os abstencionistas, poderá andar à volta dos 180 aos 250 mil”, explica ao PÚBLICO o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães. O responsável acrescentou ainda que, no conjunto de toda a população, as previsões apontam para “um total de 400.000 pessoas isoladas no final do mês”.

O médico destaca que, por essa altura, “toda a população residente em Portugal terá já algum tipo de imunidade, por um lado, porque as pessoas estão vacinadas [contra a covid-19] e, por outro lado, porque esta variante é muito mais infecciosa do que a variante anterior e isso significa, na prática, que o número de pessoas que vão ser imunizadas de forma natural vai ser muitíssimo elevado”.

No que toca aos internamentos dos doentes com covid-19, a Ordem dos Médicos e o Instituto Superior Técnico perspectivam que se possa chegar a um máximo total – incluindo enfermarias e unidades de cuidados intensivos (UCI) – de 2500 camas ocupadas, “um número francamente inferior ao de Janeiro passado”, refere Miguel Guimarães. O bastonário adianta ainda que esse pico de hospitalizações deverá acontecer no fim deste mês e, no que respeita a internamento em UCI, “não é provável que se ultrapassem as 250 camas”.

Esse é um cenário que Carlos Antunes vê como pouco provável. O matemático admite que se possam ultrapassar as 200 camas ocupadas em UCI, mas refere que o mais provável é que o número de doentes internados naquelas unidades seja entre os 180 e os 190. “É uma subida muito ligeira, com menor impacto”, sustenta.

Mortes vão continuar a subir

“A preocupação começa a recair sobre os óbitos, porque estamos já com 30 óbitos por dia, em termos médios, que é uma mortalidade relativamente elevada e acima da ‘linha vermelha’ que seriam os 20 óbitos por milhão de habitantes nos últimos 14 dias”, diz Carlos Antunes. A projecção que faz quanto a este indicador é que continue com uma “tendência de subida”, havendo a “probabilidade de chegar aos 40 óbitos diários”. “Normalmente os internamentos e os óbitos têm um atraso relativamente ao pico da incidência, que ocorrerá agora.”

Também a Ordem dos Médicos perspectiva que a letalidade continue a aumentar durante este mês, “mas não ultrapassará os 35 a 40 óbitos, a sete dias”, como explica Miguel Guimarães.

Para o matemático Óscar Felgueiras, essa letalidade é especialmente preocupante na faixa etária dos idosos, uma vez que o número de casos naquele grupo “tem vindo a aumentar, embora não tanto como nas crianças, por exemplo”. “O número de casos nesta faixa dos mais idosos, acima dos 80 anos, aumentou e isso terá impacto no número de óbitos”.

Pico de incidência durante esta semana

Os três especialistas destacam que é no grupo dos mais pequenos que a incidência tem sido mais elevada. Ao contrário dos que têm entre 20 e 29 anos, onde já se verifica uma estabilização. “Parece mesmo estar a cair”, refere Óscar Felgueiras.

É no que respeita às projecções relativas ao pico de infecções que as opiniões divergem. “O que aparenta é que estaremos na zona do pico, que poderá já ter ocorrido ou estar a ocorrer”, começa por explicar Carlos Antunes, que acrescenta que “há uma estabilização no número de casos, visível não só ao nível dos números nacionais e da tendência da transmissibilidade, mas também ao nível regional”.

Já o bastonário da Ordem dos Médicos refere que o pico de infecções da presente vaga terá lugar “entre 20 e 24 de Janeiro”. Mas, ao contrário do que inicialmente a OM e o IST previram, não se chegará ao número de 100 mil a 120 mil casos diários de infecção, algo que justifica com a “saturação do sistema de testagem”. “Por isso, a incidência não vai andar muito longe daquilo que temos agora, que são os 30 a 40 mil casos diários, podendo chegar aos 50 mil”, sustenta o médico.

Já Óscar Felgueiras diz que Portugal está agora “numa fase de planalto”, destacando que há “muitos casos activos e que, se se somarem os casos activos e em vigilância, se verifica um novo máximo de sempre: são 600.000 mil pessoas”.

“Estamos com uma incidência elevada e que está a tender a estabilizar-se num nível elevado e que em breve vai começar a descer. Poderá ser agora dentro desta próxima semana que teremos este pico, mas, acima de tudo, o que tem havido é um forte abrandamento no crescimento e que nos está a fazer aproximar do momento em que vamos começar a ver os casos a baixar”, acrescenta ainda.

De facto, esta segunda-feira os valores do R(t) – ou índice de transmissibilidade – registaram uma descida em relação ao último balanço, feito na sexta-feira (1,19) e situam-se agora nos 1,13 a nível nacional. Mas a incidência subiu em relação à actualização anterior, fixando-se acima de 3840 casos por 100 mil habitantes a nível nacional. Na sexta-feira, a incidência era de 3813,6 casos a nível nacional.

De acordo com o boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde (DGS) divulgado nesta segunda-feira, Portugal registou, neste domingo, mais 21.917 casos de infecção e 31 mortes por covid-19. Trata-se de uma descida em relação aos números de sábado, quando se somaram 32.271 infecções em Portugal. Porém, importa sublinhar que, por norma, as segundas-feiras são dias com números mais baixos de novos casos, tanto pelo menor número de testes feitos ao longo do fim-de-semana como pelos potenciais atrasos na comunicação dos novos casos confirmados.

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